26 de julho de 2014 | 02h04
Criada em junho de 2012, a Aliança do Pacífico é um bloco comercial formado por Chile, Colômbia, México e Peru, com a posterior entrada da Costa Rica. O bloco, apesar de mais recente que o Mercosul, tem dado passos consistentes, implantando acordos benéficos aos seus membros, ao contrário do Mercosul.
Por trás dessa disparidade de resultados, existe uma diferença de postura. O bloco do Pacífico tem um claro interesse prático: promover o livre-comércio e a abertura de mercado. Já a história do Mercosul é mais complexa, com muitas idas e vindas, discursos grandiloquentes e realidades miúdas, numa atitude que faz parecer que a ideologia prevalece sobre os objetivos comerciais. Veja-se, por exemplo, a entrada da Venezuela no bloco.
O pretendido acordo de agora não chega a significar um passo comercial importante, já que, especialmente para o Brasil, os efeitos comerciais desse adiantamento de prazo para zerar as alíquotas serão muito pequenos. O Brasil já tem tarifas zeradas ou significativamente reduzidas com os três países. Com o Chile, a redução tarifária já atinge hoje quase 100% dos produtos, à exceção do trigo - em 88% dos produtos, as tarifas estão em zero. Com o Peru, o País oferece redução em 99% dos produtos e recebe, a partir deste ano, redução em 83% do comércio bilateral. O peso maior seria com a Colômbia, que ainda protege 42% de seus produtos, embora tenha redução em 92% dos produtos exportados ao Brasil.
Sem grande impacto comercial, segundo diplomatas ouvidos pelo Estado, o acordo teria mais um caráter político: antecipar a abertura de mercados para a Aliança do Pacífico seria uma forma de pressionar os europeus em relação ao acordo entre Mercosul e União Europeia (UE).
No mínimo, tal raciocínio é uma ingenuidade. O acordo com o bloco europeu não andou até o momento por culpa do próprio Mercosul, que continua preso à falta de vontade da Argentina nesse acordo, agravando-se agora por sua precária situação ante a ação dos credores holdout na Justiça norte-americana.
A falta de acordo com o bloco europeu é um dos fracassos da política externa brasileira, que, insistindo com o Mercosul nos moldes atuais, não conseguiu fazê-lo andar. Durante visita ao Brasil na semana passada, o presidente português da Comissão Europeia, José Manuel Durão, afirmou: "Me parece um bocadinho absurdo que a UE tenha acordo de livre-comércio com o mundo inteiro menos com o Brasil". Nesse contexto, evidencia-se o sentido político-eleitoral para o Palácio do Planalto do acordo do Mercosul com os três países sul-americanos da Aliança do Pacífico: ter algo a apresentar, além dos acordos já firmados com Egito, Israel e Palestina.
Ainda que a proposta a ser feita pelo Brasil na próxima semana seja simples, necessita da concordância dos outros países do Mercosul. Segundo reportagem do Estado, foram feitas conversas informais com os outros países e o governo brasileiro está otimista. Mas é esperar para ver.
Em resumo, não é um acordo comercial importante, mas, diante da atual situação brasileira, seria algo. Um símbolo. De todo modo, apresentar esse adiantamento como o grande resultado da diplomacia da presidente Dilma é constrangedor, diante dos reais desafios do País no mundo.
Encontrou algum erro? Entre em contato