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De volta à realidade

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Por Redação
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O reajuste da tarifa de ônibus da capital, que passa de R$ 3,00 para R$ 3,50 a partir do próximo dia 6 - logo seguido pelo do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), com igual valor e na mesma data -, era o desfecho inevitável de um problema que vinha se arrastando desde o ano passado, com sérias consequências financeiras tanto para a Prefeitura como para o Estado. Mesmo assim, essa ainda não é uma questão pacífica, pois, tão logo foi anunciado, o aumento começou a ser contestado pelo Movimento Passe Livre (MPL), que já programa manifestações de protesto.Ainda haverá perdas, pois o reajuste, de 16,67%, ficou abaixo da inflação de 23,2% do período de 2011 a 2014 de congelamento da tarifa de ônibus. Se ela fosse seguida, o valor seria de R$ 3,70. Além disso, o prefeito Fernando Haddad deixou fora do reajuste os bilhetes únicos mensal, semanal e diário - que hoje custam, respectivamente, R$ 140,00, R$ 38,00 e R$ 10,00 -, incidindo o aumento apenas sobre o bilhete único comum e a passagem paga com dinheiro. Isso, segundo ele, deve levar as empresas que dão vale-transporte para seus empregados a adquirir o bilhete único mensal. Quanto à passagem de integração de ônibus com metrô e trens, ela passa de R$ 4,65 para R$ 5,45.O mesmo caminho tomou o Consórcio Intermunicipal Grande ABC, que aumentou a tarifa de ônibus também para R$ 3,50 nas sete cidades que o integram - Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. O governador Geraldo Alckmin fechou o círculo, depois de lembrar que a tarifa do sistema metroferroviário estava também congelada desde fevereiro de 2012. Segundo ele, o reajuste tinha de ser feito em entendimento com a Prefeitura: "Sempre conversamos. Não dá para fazer uma coisa descolada da outra, porque aí desequilibra o bilhete único". Apesar das limitações estabelecidas por Haddad, o reajuste da passagem dos ônibus - da mesma maneira que o do metrô e o dos trens - é um avanço. Desde a anulação do aumento da tarifa do transporte coletivo, que de R$ 3,20 voltou para R$ 3,00, como consequência das manifestações de junho de 2013, que de São Paulo logo adquiriram dimensão nacional, estava claro para qualquer observador razoavelmente informado que isso levaria inevitavelmente a uma situação insustentável para as prefeituras das cidades envolvidas e para o governo do Estado.Cedo ou tarde - e infelizmente isso demorou muito - era preciso voltar à realidade. O exemplo da capital mostra bem o alto custo que se estava pagando pelo congelamento da tarifa. Os subsídios ao serviço de ônibus dispararam e chegaram a R$ 1,7 bilhão em 2014. Se o reajuste não tivesse sido feito, eles atingiriam R$ 2 bilhões em 2015, de acordo com estimativa da Comissão de Finanças da Câmara Municipal. Uma situação que prejudicava gravemente a capacidade de investimento da Prefeitura, a começar pelo destinado a melhorar o transporte coletivo. O mesmo se pode dizer do governo do Estado.Quem continua fora da realidade e não dá sinal de que pretende mudar, ao contrário, é o MPL, que esteve na origem das manifestações de 2013 e pelas redes sociais já está convocando a população para o que chama de 1.º Grande Ato Contra a Tarifa, a ser realizado no dia 9. A concessão pela Prefeitura de passe livre para estudantes - e o mesmo será proposto pelo governo do Estado, em projeto de lei a ser enviado à Assembleia Legislativa - não o sensibilizou. Insiste na delirante tarifa zero. E, pelo menos para tentar anular o aumento, o MPL já recebeu o apoio do sindicato dos metroviários.Mesmo que, como tudo indica, seja improvável que as manifestações programadas adquiram a mesma amplitude das de 2013, não se pode menosprezar a capacidade do MPL e de seus aliados, aos quais certamente se juntarão os black blocs, de perturbar a vida da cidade. Resistir ao tumulto e ao vandalismo que eles podem provocar será a prova de fogo para Haddad e Alckmin. O preço de se acovardar e recuar mais uma vez será alto demais.