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Desastre comercial

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Por Redação
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A presidente Dilma Rousseff tem mais um resultado excepcional para inscrever em suas realizações econômicas. O Brasil acumulou no primeiro bimestre um déficit comercial de US$ 5,3 bilhões, um recorde para o período, com exportações de US$ 31,5 bilhões e importações de US$ 36,8 bilhões. As vendas para o exterior foram 5,5% menores que as de janeiro e fevereiro do ano passado e as compras, 11,8% maiores, pelas médias dos dias úteis. Quando a façanha foi divulgada, no meio da tarde de sexta-feira, as atenções ainda estavam concentradas no pibinho, noticiado no começo da manhã. O crescimento de apenas 0,9% do PIB quase ofuscou o desastre comercial e o novo desafio. O País voltará a ser superavitário nos próximos meses, disse a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Tatiana Prazeres. Essa previsão será confirmada, quase certamente, mas qualquer projeção dos números finais é muito arriscada, nesta altura. Um superávit comercial de US$ 15 bilhões em 2012 ainda foi previsto na semana passada por economistas do mercado financeiro e de consultorias independentes, segundo a pesquisa Focus do Banco Central (BC). Para alcançar esse resultado, o Brasil precisará obter em dez meses, de março a dezembro, um saldo comercial de US$ 20,3 bilhões, maior, portanto, que o conseguido no ano passado, de US$ 19,4 bilhões. Em 2012, houve déficit de US$ 1,3 bilhão em janeiro e resultados positivos em todos os outros meses. Muito mais complicado será chegar ao fim do ano com o superávit projetado pelo BC, de US$ 17 bilhões. Mesmo este número é baseado em projeções pouco otimistas, com exportações de US$ 268 bilhões, 10,5% maiores que as de 2012 e apenas 4,7% superiores às de 2011. As exportações estimadas pelo BC de US$ 251 bilhões, superam as do ano passado por 12,5% e as de dois anos antes por 11%. A secretária Tatiana Prazeres justificou sua expectativa de resultados melhores mencionando a boa safra prevista para o ano, a perspectiva de bons preços para a soja, o milho e o minério de ferro, o possível crescimento da economia americana e a diversificação de mercados.Mas a diversificação já é um dado e, além disso, as novidades dos últimos anos foram a crescente dependência do mercado chinês e das vendas de produtos básicos. Houve aproximação com países do Oriente Médio e do Extremo Oriente, compradores de alimentos.Sem acordos com o mundo desenvolvido, o Brasil terá poucas possibilidades de mudar a composição das vendas a curto prazo. Ao apontar a safra e as perspectivas de preços para produtos básicos, a secretária de certa forma avalizou esse ponto de vista. No primeiro bimestre, a participação dos manufaturados na receita ficou em 39%, ou 0,9 ponto abaixo da de um ano antes. A sensível perda de competitividade do setor manufatureiro foi mais uma vez confirmada, ontem, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A participação de importados no consumo nacional passou de 19,5% em 2011 para 21,6% em 2012, o maior nível da série iniciada em 1996. Também a participação de insumos importados atingiu nível recorde, de 23,2%. Do lado oposto, o coeficiente de exportação, 20,6%, superou 20% pela primeira vez desde 2007 e ficou abaixo do nível de 2004 (22,9%). Esse coeficiente indica a parcela da produção destinada ao exterior. A perda de competitividade industrial, resultante principalmente de erros da política, explica o baixo dinamismo das vendas e o rápido aumento das compras de bens industriais. Mas o aumento das importações também reflete o mau desempenho da Petrobrás. Sua produção interna de petróleo e gás diminuiu 0,9% de 2011 para 2012 e continuou em queda em janeiro. As compras da estatal contabilizadas no bimestre foram em parte realizadas no ano passado. Mas, durante algum tempo, as importações foram ampliadas por erros na política de preços, com desestímulo à produção de etanol e estímulo exagerado ao consumo de gasolina.Em suma: visto de qualquer lado, o fiasco do comércio exterior é explicável basicamente por erros do governo.