
29 de novembro de 2010 | 00h00
Raciocínio semelhante se aplica a todo o processo de desconcentração de renda e de riqueza no Brasil, desde a estabilização da moeda, no governo Fernando Henrique, e a continuidade da política de distribuição de renda e ascensão das famílias à classe média baixa, no governo Lula.
O IBGE comparou os anos de 1995 e 2002, ambos na era FHC, com 2008, um dos melhores da era Lula - e as conclusões mais importantes não estão nas tendências, que são as mesmas no longo prazo, mas nos pormenores e no significado dos números. Por regiões, o Sudeste ocupava e ocupa o primeiro lugar, mas sua participação no PIB declinou de 3,1 pontos porcentuais entre 1995 e 2008 e de apenas 0,7 ponto porcentual entre 2002 e 2008 - ou seja, a desconcentração foi mais intensa na fase de recuperação do poder da moeda, com o Plano Real.
Traduzido em valores do PIB para 2008, o Sudeste gerou R$ 93 bilhões a menos de riqueza em 13 anos. O Estado de São Paulo detinha 37,3% do PIB, em 1995, e 34,6%, em 2002, caindo para 33,1%, em 2008. Perdeu R$ 126 bilhões em PIB - e teria levado o Sudeste a perder ainda mais participação no PIB nacional não fosse o crescimento de Minas (+0,7 ponto), Espírito Santo (+0,3 ponto) e Rio de Janeiro (+0,1 ponto).
São Paulo perdeu investimentos em decorrência da guerra fiscal e dos incentivos tributários às regiões menos desenvolvidas, admitiu o gerente de Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, Frederico Cunha. Em 2008, o Estado também foi afetado como centro de intermediação financeira do País, um setor muito atingido pela crise global.
Entre 1995 e 2008, as Regiões mais beneficiadas foram o Nordeste, cujo peso no PIB passou de 12% para 13,1%; o Norte, de 4,2% para 5,1%; e o Centro-Oeste, de 8,4% para 9,2% - o Sul também melhorou sua posição relativa, de 16,2% para 16,6%.
Mas a desconcentração econômica foi mais intensa no período FHC. Do 1,1 ponto porcentual de ganho no PIB do Nordeste, apenas 0,1 ponto corresponde à era Lula; no Norte, do total de 0,9 ponto, só 0,2 ponto foi conquistado neste governo. No Centro-Oeste, de 0,8 ponto porcentual de ganho, a metade foi obtida no governo Lula.
A expansão do agronegócio foi um notável vetor de crescimento das regiões menos desenvolvidas. A cana-de-açúcar, a soja e o café ajudaram Rondônia; as lavouras temporárias empurraram o Acre; o Amazonas sofreu percalços na área industrial, mas ganhou com a criação de gado, o café e o cultivo de frutas cítricas.
Em Roraima, municípios como Normandia e Pacaraima deram alento ao cultivo de cereais. Também no Tocantins, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Bahia e Piauí o agronegócio teve peso decisivo. A produtividade da soja do Piauí foi a maior do País (3.231 kg/ha). A agropecuária contribuiu para as economias de Minas Gerais e, ainda mais, do Mato Grosso do Sul, do Mato Grosso e de Goiás. No Rio Grande do Sul e no Rio Grande do Norte, problemas climáticos afetaram o setor e, consequentemente, as economias locais.
Em todo o País, os setores da construção civil e os serviços contribuíram para o aumento da riqueza. Eles indicam aumento da oferta de crédito e renda dos trabalhadores e acesso da população a serviços públicos e pessoais, comunicações, hotelaria e transporte.
A desconcentração da riqueza foi muito influenciada, na era FHC, pelo programa de previdência rural, que incorporou cerca de 8 milhões de pessoas ao INSS. E prosseguiu, na era Lula, com o aumento do crédito, do emprego formal e dos programas de erradicação da pobreza, inclusive o Bolsa-Família.
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