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Desemprego, legado de Dilma

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Por Redação
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O desemprego continua em alta, a renda familiar encolhe e o consumo deve continuar deprimido ainda por um bom tempo, antes de alguma animação aparecer nos mercados. Em um ano a desocupação passou de 8% para 11,2% da força de trabalho, uma das taxas mais altas do mundo – uma demonstração a mais do fracasso da política econômica da presidente Dilma Rousseff. Os últimos dados mostram com clareza a piora das condições de trabalho no trimestre encerrado em abril. Nesse período, 11,51 milhões de pessoas procuravam emprego, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Contínua (Pnad Contínua), com números trimestrais atualizados mensalmente. No trimestre encerrado em março, a desocupação havia chegado a 10,9% da população ativa, superando a taxa da zona do euro (10,2%).

Desde o trimestre fevereiro-abril do ano passado, 3,38 milhões de pessoas foram acrescentadas ao total de desempregados. Nesse período de um ano o Brasil perdeu 1,54 milhão de postos, mas para cada novo demitido apareceram mais dois trabalhadores em busca de emprego. A população em idade de trabalhar continuou em crescimento e, ao mesmo tempo, mais pessoas saíram de casa em busca de algum dinheiro para a família. Em 2014, último ano do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, a economia brasileira cresceu somente 0,1%. No ano seguinte, o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 3,8% e com isso as condições do mercado pioraram dramaticamente, com mais postos de trabalho fechados e mais pessoas forçadas a correr atrás de alguma oportunidade.

No trimestre encerrado em abril a renda média do trabalhador, descontada a inflação, foi 3,3% menor que a de um ano antes. Na mesma comparação, a massa de rendimentos, isto é, o total da remuneração conseguida pelos trabalhadores, diminuiu 4,3%. Os efeitos desse desastre, agravado pela alta de juros e pela redução do crédito, são visíveis na redução do consumo, no fechamento de lojas e no recuo da produção da indústria. Mas novos capítulos devem ainda somar-se a essa história. Os desempregados de hoje, pressionados pela falta de dinheiro, pelo crédito escasso e pela insegurança, devem continuar contendo os gastos. Além disso, a inadimplência já é alta e muitas famílias tendem a fugir de novas operações de crédito.

É razoável, portanto, prever o aumento do desemprego ainda por algum tempo. Segundo economistas do mercado financeiro e de consultorias, a desocupação ainda poderá atingir, neste ano, algo entre 12% e 13% da força de trabalho. Dentro de alguns meses mais de 12 milhões de pessoas poderão estar em busca de alguma colocação. Numa hipótese mais favorável, isto é, mesmo sem aumento da desocupação, o contingente de pessoas atrás de uma oportunidade ainda será muito grande até o fim do ano. Mas um detalhe torna o cenário mais feio: como o seguro-desemprego só é garantido por cinco meses, a desocupação por um tempo mais prolongado torna ainda mais complicada a sobrevivência de um grande número de famílias. Isso já vem ocorrendo.

Com a perspectiva de um déficit primário de até R$ 170 bilhões neste ano, o governo terá de conter severamente seus gastos. Pouco poderá fazer, pelo lado da despesa, para reanimar os negócios e conter a piora do mercado de trabalho. Se conseguir desemperrar as concessões para infraestrutura, produzirá dois efeitos positivos. Haverá mais investimentos em obras, com o consequente estímulo aos setores de construção e de equipamentos, e uma receita extra graças aos bônus pagos nas licitações.

Se conseguir implantar uma séria política de ajuste das contas públicas, o governo acabará também reforçando a confiança dos empresários. Isso deverá facilitar a retomada da produção e das contratações. Nesse caso, os passos iniciais para a superação da crise serão dados. Como há muita capacidade ociosa, a atividade poderá crescer sem muita dificuldade. Mas a fase seguinte dependerá de uma firme ampliação do investimento produtivo.