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Desemprego made by Dilma

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Por Redação
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Mais uma façanha da presidente Dilma Rousseff: o Brasil deixou longe os Estados Unidos e está praticamente empatado com a União Europeia. Não em crescimento econômico, em educação ou em bem-estar, é claro, mas em desemprego. A desocupação no País chegou a 10,2% da força de trabalho, no período entre dezembro e fevereiro, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. O número de pessoas em busca de uma colocação chegou a 10,37 milhões, 2,97 milhões a mais que um ano antes. Esse levantamento é realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 3.464 municípios e substitui, com enorme vantagem, a pesquisa tradicional, limitada às seis maiores áreas metropolitanas. Há um ano o desemprego estava em 7,4%. Subiu firmemente ao longo de 2015, com o agravamento da recessão, e no trimestre móvel encerrado em janeiro já estava em 9,5%.  A crise brasileira vem do mundo rico, segundo a presidente Dilma Rousseff, mas em fevereiro a média do desemprego estava em 8,9% na União Europeia, 10,3% na zona do euro e 5,67% nas sete maiores economias desenvolvidas. Nos Estados Unidos estava em 4,9%, mas subiu ligeiramente, para 5%, no mês seguinte. A economia americana tem criado cerca de 200 mil empregos por mês, basicamente no setor privado, e a expectativa é de mais um ano de expansão do Produto Interno Bruto (PIB), apesar de alguns riscos à frente.  Nos 34 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) havia 6,5% de desempregados em fevereiro. Em alguns países, como a Espanha, a taxa era bem superior (20,4%, nesse caso), mas outras grandes economias muito afetadas pela crise, como França e Itália, haviam chegado a posições mais confortáveis (10,2% e 11,7%, respectivamente). As taxas eram muito menores na maior parte dos europeus – 4,3% na Alemanha, por exemplo, e 5% no Reino Unido (número de dezembro).  A crise brasileira é importada, segundo a peculiar análise econômica da presidente, mas essa avaliação combina muito mal com as estatísticas. O PIB do Brasil cresceu apenas 0,1% em 2014, encolheu 3,8% em 2015, deve diminuir mais 3,8% neste ano e permanecer estagnado, com variação zero, em 2017. A economia americana expandiu-se 2,4% no ano passado, deve repetir esse desempenho neste ano e acelerar para 2,5% no próximo, segundo as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI).  A evolução tem sido mais modesta na zona do euro, mas positiva, com crescimento de 1,6% no ano passado e taxas de 1,5% e 1,6% estimadas para 2016 e 2017. Economias americanas também têm números melhores que os brasileiros. O desemprego no México estava em 4,2%. No Chile, em 6,1%. Os dois países, assim como Colômbia, Peru e Paraguai, têm crescido e devem continuar crescendo mais que o Brasil.  Chile, Colômbia, Peru e Paraguai dependem mais que o Brasil dos preços internacionais dos produtos básicos, mas, apesar disso, exibem condições econômicas muito mais saudáveis. A presidente Dilma Rousseff mencionou a jornalistas estrangeiros o fim do superciclo das commodities como uma das explicações do emperramento econômico do Brasil. Deveria ter também explicado por que outros exportadores de matérias-primas têm conseguido atravessar este período com muito menos problemas.  No Brasil, a indústria continuou, na virada do ano, o setor mais afetado pela recessão. Em um ano, até o trimestre dezembro-fevereiro de 2016, o número de empregados na atividade industrial diminuiu 10,4%, taxa equivalente a 1,37 milhão de pessoas. Isso indica perda de qualidade do emprego e, naturalmente, enfraquecimento de uma área crucialmente importante do ponto de vista da estratégia econômica. Considerados todos os setores, a massa de rendimentos diminuiu 4,7% em um ano, descontada a inflação. Consequência: menos consumo e menos contratações. Sem ações corretivas, a crise se realimenta. Culpa desse mundo malvado?