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Desemprego: mais um fiasco

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Por Redação
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O desemprego no Brasil é bem mais feio do que o governo costuma alardear e bem maior do que em várias grandes economias desenvolvidas e emergentes, se forem levados em conta os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Esse levantamento é realizado a cada trimestre em cerca de 3.500 municípios. Além disso, o emprego tem perdido qualidade, em termos de produtividade e de vantagens, porque as vagas industriais têm diminuído continuamente a partir de 2012, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A última Pnad, publicada ontem, mostrou 6,5 milhões de desocupados nos três meses finais de 2014. Esse total correspondeu a 6,5% da população economicamente ativa. Embora a desocupação tenha sido menor que no período entre julho e setembro (6,8%), foi bem mais ampla que a estimada na pesquisa mensal realizada nas seis maiores áreas metropolitanas: 4,3% em dezembro e 4,6%, em média, no quarto trimestre do ano passado. É esta a pesquisa geralmente citada pelas autoridades quando comparam a situação brasileira com a de outras economias, principalmente as desenvolvidas. No Brasil, segundo a presidente Dilma Rousseff, a política econômica preservou e até elevou o nível de emprego, enquanto no mundo rico milhões eram demitidos por causa da crise iniciada em 2008. A defesa da atividade e do emprego foi o argumento usado há poucos dias pela presidente para explicar e justificar o mau estado das contas públicas no final de seu primeiro mandato. Não há como levar a sério essa retórica. Nos últimos quatro anos, o Brasil ficou bem para trás na corrida do crescimento econômico. Os números parciais já conhecidos indicam um resultado desastroso em 2014. Em 2015, a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) será nula, segundo as projeções correntes. A economia está muito fraca e, além disso, a reparação dos danos acumulados a partir de 2011 vai exigir um forte arrocho fiscal e monetário. O discurso oficial é desmentido também quando se trata do emprego. Pelos dados da Pnad, a desocupação no Brasil, no quarto trimestre do ano passado, foi maior que o desemprego em 15 dos 34 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A lista dos países com desocupação menor que a do Brasil, naquele período, inclui Estados Unidos (5,7%), Japão (3,5%), Alemanha (4,9%), Reino Unido (5,9% no 3.º trimestre, com tendência de queda) e Coreia (3,5%). Estão nesse grupo cinco das maiores economias capitalistas. A relação inclui também México (4,6%), Austrália (6,2%), Áustria (4,9%) e Dinamarca (6,4%), entre outros. No Chile, o desemprego ficou em 6,5%, mesma taxa do Brasil, nos últimos três meses de 2014. A média dos países da OCDE, de 7,1%, é explicável pelo alto desemprego em um número reduzido de economias, algumas grandes, como França (10,3%), Itália (13,2%) e Espanha (23,8%), uma das mais duramente atingidas pela crise. A perda de qualidade do emprego no Brasil já era conhecida e foi confirmada, mais uma vez, com a divulgação de dados da indústria. Segundo o IBGE, os empregos no setor diminuíram 3,2% no ano passado, acompanhando a redução do produto industrial. Em dezembro, o número de pessoas ocupadas foi 4% menor que o de um ano antes. No ano, a folha de pagamento real encolheu 1,1%, em parte pelas demissões, em parte pela erosão dos salários causada pela inflação. O desemprego na indústria, reflexo da estagnação do setor, também comprova o fracasso da política de crescimento alardeada pela presidente. A ocupação aumentou 1% em 2011 e diminuiu continuamente nos três anos seguintes - 1,4% em 2012, 1,1% em 2013 e 3,2% em 2014. No primeiro mandato de Dilma Rousseff, o emprego industrial era 4,7% menor que em 2010, último ano de seu antecessor. Esse quadro evidencia o fiasco de uma política baseada no protecionismo, na distribuição seletiva de benefícios de modo geral, voltada mais para o consumo do que para a produção. Nada se deve manter dessa política.