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Desemprego na indústria

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Por Redação
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O ano começou mal para o trabalhador na indústria, com demissões nas montadoras de veículos, perspectiva de mais cortes de pessoal em vários setores e expectativa de produção em marcha lenta por muitos meses. Há sinais de pessimismo tanto do lado dos empregadores quanto dos assalariados. Funcionários da Volkswagen e da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo reuniram-se em manifestação na Via Anchieta para protestar contra cortes de pessoal e reivindicar a criação de um programa de proteção do emprego. Os manifestantes defenderam a ampliação do período do lay-off, a suspensão temporária dos contratos de trabalho. É um objetivo modesto, revelador de baixa expectativa quanto ao surgimento de vagas nos próximos meses. As demissões na Volkswagen foram canceladas dias depois.O estado de espírito exibido pelos assalariados parece coincidir com o do empresariado. A confiança dos dirigentes industriais voltou a cair em dezembro, segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas, com pessimismo quanto à produção e ao emprego no curtíssimo prazo e "ligeira melhora de perspectivas no horizonte de seis meses". Mesmo essa melhora é pouco significativa. Numa escala de zero a 200, com pessimismo e otimismo indicados abaixo e acima do nível 100, as expectativas ficaram em 84,6 pontos, bem abaixo da média observada nos últimos cinco anos, de 102,4.Mas o índice de expectativas esteve abaixo dessa média por um ano e meio. Nesse período, o nível mais alto, atingido em dezembro de 2013, foi exatamente o divisor - 100 pontos - entre pessimismo e otimismo. É fácil de compreender esse estado de espírito, quando se considera a evolução da atividade e do emprego nos quatro anos do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.A produção industrial cresceu 0,4% em 2011, encolheu 2,3% em 2012 e aumentou 2,1% em 2013, sem nem sequer retornar ao nível de dois anos antes. De janeiro a novembro de 2014, foi 3,2% menor que nos 11 meses correspondentes do ano anterior. Os números de dezembro devem confirmar mais um resultado anual negativo.A evolução do emprego refletiu o baixo ritmo da atividade industrial. O pessoal assalariado aumentou 1% em 2011, diminuiu 1,4% em 2012 e encolheu 1,1% em 2013, segundo a pesquisa mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre janeiro e novembro de 2014, o número dos ocupados foi 3,1% menor que o estimado um ano antes. A diminuição do número de horas pagas foi pouco maior, de 3,7%.Na comparação dos períodos janeiro-outubro de 2013 e de 2014, a folha de pagamento real, isto é, descontada a inflação, diminuiu 0,8%. Apesar da inflação elevada, a erosão dos salários foi menor que a diminuição do quadro de empregados. Isso parece indicar a preservação de uma parcela, pelo menos, do pessoal mais qualificado, um cuidado compreensível nas condições do mercado de trabalho brasileiro.Na indústria automobilística, o número de empregados foi sempre menor que o do ano anterior a partir de abril. Em dezembro, o contingente, de 144,62 mil trabalhadores, foi 7,9% inferior ao de um ano antes. Apesar da manutenção dos incentivos fiscais ao setor, a produção das montadoras diminuiu 15,3% durante o ano e ficou em 3,71 milhões de unidades. As novas demissões anunciadas por empresas do setor acompanharam a recomposição das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) a partir de 1.º de janeiro deste ano. Mas os problemas do setor automobilístico são apenas mais visíveis que os de vários outros, também em péssimo estado.Alguns atribuirão a piora das perspectivas de emprego ao prometido ajuste das contas públicas. Mas o emprego industrial encolheu nos últimos três anos. Os incentivos ao crescimento favoreceram grupos selecionados e nunca melhoraram a competitividade nacional, como comprovam a estagnação da indústria e o tombo das exportações. O mal está feito e o ajuste será um reparo dos erros cometidos pela presidente reeleita.