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Desemprego no agronegócio

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Por Redação
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A boa notícia é a melhora das exportações do agronegócio em março, quando o valor das vendas, US$ 4,79 bilhões, ficou 0,3% acima do registrado um ano antes. O desempenho comercial do setor, nos dois meses anteriores, havia sido muito fraco. A má notícia é a redução do emprego nas atividades ligadas à produção agropecuária desde o agravamento da crise internacional, no terceiro trimestre do ano passado. Entre setembro e fevereiro, cerca de 153 mil postos de trabalho formal foram fechados no campo, nas empresas processadoras de carnes e de laticínios e nas fábricas de máquinas agrícolas, de acordo com dados da indústria e do Ministério do Trabalho divulgados pela Gazeta Mercantil. A reportagem menciona, mas não inclui na conta, os empregos eliminados nas usinas de álcool. É fácil entender a redução do emprego quando se examina o desempenho econômico do agronegócio. Em janeiro e fevereiro o setor faturou menos com as vendas ao exterior do que no primeiro bimestre de 2008. A situação melhorou em março, mas os números acumulados ainda são muito insatisfatórios. No primeiro trimestre o agronegócio exportou produtos no valor de US$ 12,59 bilhões, 9,4% menor que o de igual período de 2008. O saldo comercial, US$ 10,16 bilhões, foi 6,67% inferior ao de igual trimestre do ano anterior. Poucos segmentos conseguiram receita maior que a de um ano antes. O complexo soja, com 11,9% de ganho, e o sucroalcooleiro, com variação de 29,3%, deram as principais contribuições para a sustentação do valor exportado. A receita obtida pelo setor de carnes foi 21,2% menor que a do período janeiro-março de 2008. A queda refletiu reduções tanto do volume vendido quanto dos preços internacionais. Em março, quando as condições foram mais favoráveis, o resultado melhor que o do ano anterior resultou principalmente do aumento dos volumes embarcados, porque os preços da maior parte dos produtos continuaram inferiores aos do mês correspondente de 2008. As exportações de soja e derivados proporcionaram receita de US$ 1,37 bilhão, 40,9% maior que a de igual mês de 2008. Isso foi possível porque os volumes vendidos de soja em grãos e de farelo mais que compensaram a redução de preços. No caso das carnes bovina e de frango, preços e quantidades variaram na mesma direção, derrubando o faturamento dos exportadores. No caso da carne suína, o aumento do volume (17,9%) foi ligeiramente maior que a redução das cotações (15,7%). Em março, como em todo o primeiro trimestre, poucos mercados proporcionaram receita maior que a de um ano antes. No período de janeiro a março, as vendas para China, Índia, Venezuela, Hong Kong, Coreia do Sul, Irã, Angola e Arábia Saudita renderam mais que no primeiro trimestre do ano passado. Foram especialmente importantes os valores faturados nas vendas para a China (US$ 982,77 milhões, com ganho de 31,9%), para a Venezuela (US$ 413,29 milhões, com aumento de 11%) e para a Coreia do Sul (US$ 216 milhões, com variação de 30,9%). Os Estados Unidos continuaram sendo o maior mercado, mas o valor importado, US$ 1,12 bilhão, foi 20,6% menor que o do primeiro trimestre do ano passado. Diminuíram as vendas para a maior parte dos grandes mercados, como Alemanha, Rússia, Bélgica, Itália, França e Reino Unido. Apesar do fraco desempenho nos primeiros meses do ano, o agronegócio se mantém como a grande fonte do superávit comercial brasileiro, essencial para a solidez do setor externo e para a segurança da economia nacional. Apesar disso, e de ainda se estimar para este ano uma boa safra de cereais e leguminosas, os dados setoriais são preocupantes. De janeiro a março, a indústria de máquinas agrícolas automotrizes vendeu às concessionárias cerca de 10.900 unidades, 2,7% menos que no mesmo trimestre do ano anterior. Este é só um exemplo de como as dificuldades na agropecuária se refletem nas indústrias vinculadas ao campo. As consequências, no entanto, não aparecem só no investimento em máquinas e na compra de insumos destinados às lavouras. Também o consumo e, portanto, o comércio varejista são afetados. Há razões de sobra para o governo acompanhar atentamente as condições da agropecuária e do agronegócio em geral. São atividades essenciais para a estabilidade de preços, para a segurança cambial e para o dinamismo da economia em geral.