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Desemprego no mundo rico

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Por Redação
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Os países desenvolvidos enfrentam uma rara combinação de problemas ? desemprego elevado, recessão generalizada e contas públicas em péssimas condições, com enormes buracos orçamentários e Tesouros cada vez mais endividados. Para reduzir o desemprego ao nível pré-crise, teriam de criar 17 milhões de postos de trabalho, segundo relatório divulgado nessa quarta-feira pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), um clube formado por 31 das economias mais industrializadas. "Criar empregos deve ser uma prioridade para os governos", disse o secretário-geral da OCDE, o mexicano Angel Gurría. Mas os governos terão de enfrentar simultaneamente as tarefas de criar empregos e reduzir os déficits fiscais, lembrou o dirigente da organização. A mesma orientação foi definida no fim de junho pelos chefes de governo do Grupo dos 20 (G-20), formado pelos países mais ricos e pelos principais emergentes. Se as principais potências abandonarem ao mesmo tempo os estímulos fiscais adotados na pior fase da crise, haverá o risco de uma volta à recessão. Mas vários desses países não têm condições de suportar maiores desajustes fiscais, concluíram os dirigentes do G-20. Daí a conveniência de políticas diferenciadas de ajustes mais suaves para os países com menores desequilíbrios fiscais. Também na quarta-feira o Eurostat publicou os dados econômicos da zona do euro no primeiro trimestre. O Produto Interno Bruto cresceu 0,2% em relação aos três meses finais de 2009 e foi 0,6% maior que o de um ano antes. Pela primeira vez em seis trimestres apareceu um resultado positivo numa comparação desse tipo. Mesmo com um desempenho melhor, a desocupação pouco ou nada teria diminuído nos últimos 6 a 12 meses, porque a contratação de pessoal normalmente ocorre com algum atraso nas saídas de recessão. Mas a prolongada estagnação europeia tende a prolongar o desemprego e os efeitos mais dolorosos da crise iniciada em 2008. Mostrando uma reativação ainda muito fraca na zona do euro, o novo balanço econômico divulgado pelo Eurostat tornou mais dramático o cenário do mercado de trabalho. Segundo o estudo da OCDE, o desemprego em maio ficou em 8,6% da força de trabalho, nível pouco abaixo do verificado em março, 8,7%. Pelo menos até 2011, segundo os autores da pesquisa, a desocupação deverá ficar acima de 8%. O quadro varia muito entre países, com desocupação pouco abaixo de 10% nos Estados Unidos e próxima de 20% na Espanha. No mercado americano é preciso criar cerca de 10 milhões de postos para se retornar à situação anterior à crise. Na Espanha, 2,5 milhões de empregos foram perdidos a partir de 2007. Pelas últimas estimativas, há 47 milhões de desempregados nos 31 países do grupo, mas o problema real no mercado de trabalho pode ser muito mais grave que o indicado por esse número. Muitas pessoas podem ter simplesmente desistido por algum tempo de tentar uma nova colocação. Outras estão subempregadas. Se esses dois contingentes forem adicionados à conta, o total de pessoas desocupadas e em condições precárias de atividade poderá chegar a 80 milhões. Na Europa, bem mais que nos Estados Unidos, o desemprego elevado agrava o problema fiscal, por causa da ampla e generosa rede de proteção social financiada com recursos públicos. Mas essa rede também estimula muitos trabalhadores a permanecer parados, à espera de ofertas de emprego atraentes. A combinação de ajuste fiscal e aumento do nível de emprego será provavelmente mais complicada para os governos europeus, por causa das circunstâncias políticas e sociais. "Mas o alto desemprego como nova condição normal é inaceitável e é preciso enfrentá-lo com uma política ampla", disse Gurría. No Brasil, 53% das pessoas ouvidas numa pesquisa da Confederação Nacional da Indústria disseram não ver risco de demissão nos próximos meses. Outros 30% disseram ter pouco medo. O Brasil e outros grandes emergentes continuam sendo os principais fatores de dinamismo da economia mundial. Se esse quadro durar muito tempo, novos desequilíbrios poderão surgir.