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Desigualdade freia crescimento

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Por Redação
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A desigualdade entre ricos e pobres nos países desenvolvidos está em seu maior nível nos últimos 30 anos, e isso afeta negativamente o crescimento econômico, afirma recente estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). “Atingimos um ponto crítico”, afirmou o secretário-geral da entidade, Angel Gurría. Atualmente, os 10% mais ricos da população total dos países da OCDE ganham 9,6 vezes mais do que os 10% mais pobres, enquanto nos anos 80 essa diferença estava em 7,1.

O relatório da OCDE – In it Together: Why Less Inequality Benefits All (Juntos nisso: por que menos desigualdade beneficia a todos) – chama a atenção para o seguinte fato: o padrão de vida dos 40% mais pobres está diminuindo em relação ao restante da população. E, segundo a OCDE, a desigualdade entre essa faixa da população, que inclui a classe média baixa, e o restante da sociedade é o fator que inibe o crescimento econômico, pois desestimula investimentos em educação e capacitação profissional numa ampla faixa da pirâmide social, diminuindo a produtividade da economia. Estima-se que a desigualdade observada nos países da OCDE retirou 4,7 pontos porcentuais de crescimento acumulado do PIB entre 1990 e 2010.

“Os dados indicam que as fortes desigualdades prejudicam o crescimento. A ação política deveria ser motivada tanto por razões econômicas como por razões sociais. Ao não atacarem o problema da desigualdade, os governos enfraquecem o tecido social e comprometem o crescimento econômico a longo prazo”, afirmou Angel Gurría, durante a apresentação do estudo em Paris.

A desigualdade vem aumentando não apenas pela disparidade entre rendimentos, mas pela concentração do patrimônio nas faixas mais ricas da população. Segundo o relatório da OCDE, os 40% mais pobres da população detêm apenas 3% do patrimônio total das famílias, enquanto os 10% mais ricos detêm 50% do patrimônio total.

Entre as medidas sugeridas pela OCDE para a redução da desigualdade entre ricos e pobres estão o esforço pela igualdade de gênero, a ampliação do acesso a empregos de qualidade, os investimentos em educação e formação ao longo da vida, além de uma política tributária redistributiva. No entanto, a entidade propõe que as políticas de redução da desigualdade não concentrem seus esforços apenas nos 10% mais pobres, mas ampliem seu foco, para alcançar também a classe média baixa, o que poderá potencializa os resultados sociais e econômicos das medidas.

Segundo o estudo, o aumento da desigualdade nos últimos 30 anos nos países da OCDE contrasta com a maioria dos países da América Latina, “particularmente o Brasil”, que desde o final da década de 90 vem reduzindo as diferenças de renda. A OCDE alerta, no entanto, que a redução da desigualdade nos países latino-americanos se desacelerou a partir de 2010. De todo modo, o atual coeficiente de Gini – indicador que mede a desigualdade de renda e que vai de 0 a 1 (quanto mais baixo, menor é a desigualdade) – entre os países da OCDE é ainda bem mais baixo que os da América Latina. O atual índice brasileiro é 0,55 – em meados dos anos 90 era 0,6 –, enquanto a média dos países da OCDE é 0,32.

Entre os fatores que explicam o aumento da desigualdade entre os países da OCDE estão as diversas transformações do mercado de trabalho. Pessoas qualificadas em setores de alta demanda, como tecnologia da informação ou finanças, tiveram substanciais aumentos de salário. No entanto, esse mesmo crescimento não foi observado nos empregos de baixa qualificação. Outro fator foi a crise financeira de 2008, que provocou desemprego em diversos países e uma fragilização das relações de trabalho. Atualmente, nos países da OCDE, um terço dos empregos é temporário ou de meio período.

O relatório da OCDE é claro: a desigualdade social freia o crescimento econômico. E a falta de crescimento econômico aumenta a desigualdade. Ou seja, não há incompatibilidade entre o desenvolvimento social e o econômico. Um precisa do outro.