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Dilma, o Fed e o rebaixamento

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Por Redação
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As duas bombas eram esperadas, mas ninguém havia previsto para o mesmo dia o novo rebaixamento dos papéis do governo à categoria de lixo – junk bonds – e o aumento dos juros básicos nos Estados Unidos, mais um entrave ao acesso do Brasil ao financiamento internacional. A elevação dos juros americanos – para a faixa de 0,25% a 0,50% – foi anunciada poucas horas depois do informe da Fitch sobre a redução do País ao grau especulativo. Com a música de Guerra nas Estrelas estaria composto o cenário épico para a celebração de mais uma façanha da presidente Dilma Rousseff. Ela encerra o primeiro ano do segundo mandato com o País degradado por duas agências de avaliação de risco, finanças públicas em frangalhos, desemprego em alta, inflação acima de 10% e economia deprimida e na contramão do mundo.

A decisão do banco central americano, o Federal Reserve (Fed), foi uma boa notícia para a maior parte do mundo. Confirmou a expectativa de fortalecimento da economia dos Estados Unidos, com crescimento estimado de 2,1% neste ano e 2,4% em 2016. O desemprego está em 5% da força de trabalho e deve continuar diminuindo.

Depois de manter os juros por sete anos na faixa de zero a 0,25%, o Fed anunciou ao mundo, mais uma vez, sua confiança na recuperação da maior economia – uma informação estimulante para todos os países capazes de competir e de batalhar por fatias do enorme e próspero mercado consumidor dos Estados Unidos. A alta de juros poderá afetar os fluxos de capitais, ao tornar os ativos financeiros americanos mais atrativos. Isso poderá criar alguma dificuldade para economias emergentes e em desenvolvimento. Mas o custo será menor, e talvez desimportante para aquelas com bons fundamentos e mais capacitadas para aproveitar as oportunidades comerciais em mercados de primeira classe.

As previsões de crescimento global continuam modestas, principalmente por causa da lenta recuperação em boa parte da Europa e no Japão, mas o mundo se move e isso acabará turbinando os negócios internacionais. Mas o Brasil, depois de anos de políticas equivocadas, está à margem da reativação da economia mundial.

Só a Rússia aparece com desempenho pior que o do Brasil, numa lista de projeções para 44 países divulgada há poucos dias pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A contração estimada para a economia brasileira, de 3,1% neste ano, só é superada pela redução calculada para o Produto Interno Bruto (PIB) da Rússia, de 4%. Mas a Rússia está envolvida em conflitos na vizinhança e sua economia, além de afetada pela queda do preço do petróleo, é severamente prejudicada por embargos impostos por vários dos maiores parceiros do mundo capitalista.

Sem guerra e sem nenhum embargo comercial, o Brasil afunda na recessão, na inflação e na desorganização das finanças públicas somente pela irresponsabilidade e pela incompetência de governos populistas e permanentemente empenhados em ações eleitoreiras. Ao aparelhar e lotear o sistema administrativo – direto e indireto – esses governos criaram condições para o desperdício de bilhões, para a pilhagem do Estado, para a degradação dos programas de investimento, para a inflação e para a devastação de boa parte do sistema produtivo.

Não há como alojar em compartimentos separados o fracasso dos investimentos em infraestrutura, a depredação de estatais, os crimes investigados na Operação Lava Jato, as pedaladas fiscais, a destruição das finanças públicas e a estagflação. O processo de impeachment, o rebaixamento do crédito e a vulnerabilidade do Brasil à alta dos juros externos são pedaços da mesma história.

A S&P e a Fitch podem ter tido algum trabalho para acompanhar o agravamento da crise brasileira. Mas a degradação do Brasil é, sobretudo, uma obra interna, produzida com material e mão de obra nacionais. A presidente ainda tenta aperfeiçoar essa obra com ferro-velho guardado de sua famigerada Matriz Econômica.