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Dilma se refugia no futebol

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Por Redação
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Em meio à crise econômica, com o índice de desemprego rondando o segundo dígito, a ação da Petrobrás valendo menos do que um coco nas praias da moda e o dólar custando mais de R$ 4,00, a presidente Dilma Rousseff busca refúgio no futebol. Com seu prestígio popular a 12%, ela compareceu à assinatura de contratos de patrocínio da Caixa Econômica Federal (CEF) a dez clubes de futebol que disputam as duas divisões superiores do Campeonato Brasileiro.

A Caixa é uma das instituições financeiras federais que protagonizaram o escândalo das pedaladas fiscais (saques a descoberto do governo em bancos oficiais para cobrir gastos orçamentários). Como se recorda, as pedaladas constituem crime fiscal que pode custar o mandato de Dilma Rousseff. A presidente da Caixa, Miriam Belchior, teve o privilégio de anunciar o aumento de gastos com o futebol em 10%, de R$ 115 milhões em 2015 para R$ 126,5 milhões em 2016. Ou seja, neste ano em que as contas públicas não fecham e serviços essenciais sofrem sensíveis cortes, que prejudicam a população, a Caixa aumenta o esbanjamento de dinheiro público. E o faz engrossando a receita de clubes que são notórios sonegadores de tributos, embora contratem jogadores e técnicos por salários mirabolantes.

Não se trata de doação nem de perdão de dívida, mas investimentos de marketing, corriqueiros na atividade do financiador – é verdade. No entanto, algumas características dos patrocínios comemorados em Brasília diferem muito da rotina da natureza de negócios do gênero. A mais notável dessas diferenças é a incomum presença da chefe do governo em pessoa na solenidade festiva. Ela compareceu porque tinha garantia de que a plateia de dirigentes e praticantes do esporte mais popular do País não seria ingrata a ponto de vaiá-la ou dela cobrar qualquer coisa. Todo mundo ali estava feliz e foi agradecer e festejar. Mas houve excluídos na distribuição do dinheiro aos grandes clubes. O Santos, campeão paulista, e os cariocas Fluminense e Botafogo ficaram fora da lista. Nela entraram, em contrapartida, Cruzeiro e Atlético Mineiro, pois, segundo o diretor de Promoções e Eventos da CEF, Gerson Bordignon, “Minas Gerais é um mercado importante para a Caixa e onde (sic) não estávamos”.

Explicações mercadológicas à parte, a presidente da República não aproveitou aquela ocasião propícia para explicar por que, em tempos de vacas magras, abriu uma exceção para o futebol, contemplando os clubes com generoso adjutório. Com a produção industrial em queda livre, a piora do desempenho dos serviços e o panorama tétrico da construção civil, que outros motivos a presidente da República teria para investir mais no futebol além do refrigério de aplausos e apoio?

Na festa, Dilma anunciou a criação da Autoridade Pública de Governança de Futebol (APFUT), ligada ao Ministério do Esporte, para servir de agência reguladora para fiscalizar as 111 entidades esportivas – entre as quais 85 clubes de futebol, 6 federações e 20 clubes sociais (sem futebol) – contempladas com condições especiais para saldar suas dívidas com a União. A MP 671, chamada de Profut, editada em agosto de 2015, parcelou o débito em 240 prestações mensais, com redução de 70% das multas, 40% dos juros e 100% dos encargos. A negociação de mãe para filho dessas dívidas em troca da simpatia dos dirigentes esportivos, ao que tudo indica, será mais uma, igual às muitas que foram tentadas para sanear as finanças dos clubes de futebol. Todas resultaram inúteis, com a quebra dos termos de negociação pelos clubes. É que, aos cartolas, não interessa dirigir clubes-empresa, com saúde econômica e financeira. Ao contrário, eles prosperam na grande confusão contábil que deixa os clubes perenemente à beira da falência. É nisso que o lulopetismo se mete. Não se trata da estatização de uma atividade privada, como temem alguns. Acabará sendo apenas uma parceria do governo com a má gestão e a corrupção de dirigentes do futebol brasileiro.