18 de maio de 2016 | 03h00
O terceiro-mundismo petista, fortemente vinculado à estratégia kirchnerista, foi testado longamente e o resultado foi o previsível. Como poderia esperar qualquer pessoa sensata e razoavelmente informada, o Brasil ficou fora de uma porção de acordos bilaterais e inter-regionais, isolou-se enquanto outras economias buscavam multiplicar seus laços de comércio e ficou limitado a uns poucos pactos com mercados pouco importantes.
Brasil e Argentina perderam o passo na globalização e ficaram para trás, mantendo amarrados o Uruguai e o Paraguai, os outros dois sócios originais do Mercosul. A indústria perdeu peso nas vendas externas brasileiras. A participação dos manufaturados no total das vendas externas passou de mais de 50% para menos de 40% em poucos anos. O setor automobilístico, favorecido internamente por benefícios fiscais e pouco empenhado na competição internacional, acomodou-se no acordo automotivo Brasil-Argentina, um pacto de mediocridade.
A política industrial prometida pelo governo jamais foi além da distribuição de favores tributários e financeiros – principalmente para setores e grupos favoritos – e de medidas protecionistas. A política do componente nacional, anacrônica e indefensável por qualquer critério razoável, foi um custoso fiasco.
O último capítulo conhecido desse fracasso foi o pedido de recuperação judicial da Sete Brasil. Essa empresa, criada como parte daquela política, resultou em prejuízos de bilhões para seus acionistas, incluídos fundos de pensão de estatais, e em problemas graves para seus credores. Parte importante das provisões para devedores contabilizadas por grandes bancos, a começar pela Caixa, é explicável por esse fracasso e pela devastação econômica e financeira da Petrobrás.
O Mercosul acaba de retomar as negociações com a União Europeia, depois de muitos anos de impasse. O entendimento parece hoje mais difícil do que há alguns anos, mas isso se deve principalmente a atrasos causados pela resistência do Mercosul, principalmente do governo argentino, mas também do brasileiro. É necessário, de toda forma, continuar tentando.
A nova diplomacia deve incluir entre suas prioridades a busca de um Mercosul mais dinâmico, menos protecionista e mais voltado para a integração global. Se as dificuldades forem muito sérias, será conveniente abandonar a união aduaneira e retornar ao status mais modesto de área de livre-comércio, com cada país livre para negociar com parceiros de fora do bloco.
Ampliar e aprofundar o acordo com o México é uma prioridade óbvia, um objetivo para ser perseguido isoladamente ou com o Mercosul. É preciso aumentar os vínculos com os países da Aliança do Pacífico – Chile, Colômbia, Peru e México – e inscrever no topo da agenda uma integração maior com os Estados Unidos, ainda o principal e mais confiável mercado para a indústria manufatureira do Brasil.
Não há como pensar a política de desenvolvimento e a diplomacia comercial como assuntos separados. Abertura e integração com outros mercados devem ser componentes essenciais da modernização produtiva do Brasil e da busca de eficiência. O resto é anacronismo e retrocesso.
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