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Dívida interna crescente e mais cara

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Por Redação
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O relatório de fevereiro da dívida pública federal pode ser um alerta sobre os efeitos da política antirrecessão: a dívida aumentou, seu custo também, e o prazo médio diminuiu. Essa evolução pode criar problema no pós-crise. Levando em conta que a Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi) representa 90,3% do total da dívida federal, podemos limitar nossa análise apenas a ela, que, aliás, deverá ser a mais atingida pela política anticíclica. O estoque da DPMFi atingiu R$ 1,247 trilhão em fevereiro, com aumento de 2,15% em um mês. O que deve ser observado é que esse crescimento se deveu a uma emissão líquida de R$ 14,94 bilhões e a uma apropriação dos juros de R$ 11,3 bilhões, responsável por 42% do crescimento da dívida. Isso confirma o que temos dito, que, mesmo o governo não realizando nenhuma emissão, a dívida iria crescer em razão da incorporação de juros. Esse é um dado importante,pois com a redução do superávit primário, que tinha por finalidade o pagamento dos juros, a dívida vai crescer ainda mais. O governo argumentava que, com a redução da taxa Selic, o custo da dívida iria baixar. É interessante notar que, em fevereiro, as emissões de títulos prefixados representaram 46,65% do total; as dos vinculados à taxa Selic, 36,83%; e as dos vinculados a índice de preços, 16,49%. O Tesouro queria, mas não pode, mudar a composição dos papéis oferecidos: verifica-se que a preferência é para títulos prefixados que sofrem forte pressão para um aumento da remuneração, e que a perspectiva de uma queda da Selic pouco afetou os investidores, pois até agora essa taxa oferece uma boa remuneração. Aliás, vê-se, ainda, que a participação dos prefixados na dívida está aumentando, passando de 25,32% em janeiro para 25,65% em fevereiro, o que mostra que a mudança da composição do estoque demora. Devemos levar em conta que o custo médio em 12 meses da dívida interna aumentou de 13,46% em janeiro para 13,54% no mês seguinte, e que, com o quase certo crescimento da dívida, esse custo será maior nos próximos meses. O perfil da dívida melhorou pouco. O prazo médio dos papéis é de 5,01 anos, e os títulos prefixados apresentam prazo médio de 1,79 ano e 52,49% desses papéis vencem em 12 meses. Não é anormal o crescimento da dívida interna na atual conjuntura. Apenas caberia ao governo administrar bem sua expansão e não esconder que ela deverá aumentar.