
30 de novembro de 2011 | 03h07
Mas a realidade poderá ser pior que o cenário desenhado pelos economistas da OCDE. Se os governos europeus continuarem retardando uma solução para a crise das dívidas soberanas, nem as maiores economias da região ficarão livres de dificuldades muito graves. Um sinal de alerta soou na semana passada, quando o governo alemão só conseguiu vender, num leilão, 65% dos títulos oferecidos ao mercado. Além disso, também no Reino Unido a situação é pior do que se previa até há pouco tempo. O Ministério das Finanças cortou de 1,7% para 0,9% a estimativa de crescimento neste ano e de 2,5% para 0,7% a expansão projetada para 2012. Além disso, até 2015 o governo precisará obter financiamentos de 111 bilhões de libras a mais do que se calculava anteriormente.
Os Estados Unidos, também com grandes problemas fiscais, ainda crescerão bem mais do que a Europa e o Japão nos próximos dois anos, segundo a OCDE. Pelas novas contas, o crescimento americano passará de 1,7% neste ano para 2% em 2012 e 2,5% em 2013. Para a zona do euro, os números estimados são 1,6%, 0,2% e 1,4%. O Japão deverá sair de uma contração de 0,3% em 2011 para uma expansão de 2% no próximo ano e 1,6% no seguinte.
O governo americano, embora muito endividado, ainda se financia muito mais facilmente que os europeus. A demanda de ativos denominados em dólares - especialmente papéis do Tesouro - continua elevada e assim deverá permanecer por muito tempo, se não houver uma enorme surpresa. Em reunião com líderes europeus na segunda-feira, em Washington, o presidente Barack Obama declarou-se preparado para organizar alguma ajuda à Europa. No mesmo dia, a Fitch, uma das principais agências de avaliação de risco, reafirmou a nota AAA para a dívida pública americana, mas com perspectiva negativa. Apesar disso, e do rebaixamento anunciado em agosto pela Standard & Poor's, os títulos federais dos Estados Unidos permanecem como referência para o mercado mundial.
A zona do euro já está em recessão e seu Produto Interno Bruto (PIB) deve encolher 1% em termos anualizados neste trimestre, segundo a OCDE. No primeiro trimestre, deverá diminuir em ritmo equivalente a 0,4% ao ano. O desastre será menor no resto do ano e o resultado médio de 2012 será uma expansão modestíssima de 0,2%.
Enquanto a crise se agrava, líderes da zona do euro continuam promovendo reuniões, apresentando esboços de planos para reforma do bloco e adiando a adoção de soluções práticas para os desafios mais urgentes. Conseguiram aprovar o aumento do fundo europeu de resgate de 440 bilhões para 1 trilhão, mas não foram capazes de pôr em funcionamento esse mecanismo. Enquanto o quadro piora, o Banco Central Europeu continua como a única entidade regional capaz de agir para atenuar os problemas. Em suas piores fases, países latino-americanos foram capazes de apresentar resultados muito mais tangíveis em seus duros programas de ajuste supervisionados pelo Fundo Monetário Internacional.
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