27 de março de 2015 | 02h05
As projeções do relatório são um pouco mais otimistas que as do setor financeiro - retração econômica de 0,83% neste ano e inflação de 8,12% em 2015 e 5,61% em 2016, segundo pesquisa Focus do dia 20, realizada pelo próprio BC. Mas no essencial os dois conjuntos de estimativas se assemelham, apontando redução do Produto Interno Bruto (PIB) e inflação próxima de 8% neste ano. Uma novidade significativa do relatório, ignorada ou menosprezada pela maior parte dos analistas, é a referência, logo na introdução, a medidas recentes e à orientação da política fiscal.
Há sinais, segundo os autores do texto, de comprometimento com as metas de superávit primário de 2015 e dos anos seguintes. Isso é bem mais do que a referência meio diplomática, nos anos anteriores, a uma possível - e jamais confirmada até 2014 - melhora das finanças do governo. Talvez seja essa a maior manifestação de otimismo contida no relatório.
O detalhe mais negativo é a perspectiva de uma nova queda do investimento produtivo, com prejuízo para o potencial, já baixo, de crescimento. O pessoal do BC reestimou a variação do PIB do ano passado com base nos novos critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento de 0,2% estimado anteriormente foi substituído por uma contração de 0,1%. Pelas novas contas, o investimento físico (máquinas, equipamentos e construções, incluídas as obras de infraestrutura) diminuiu 8,2%, em vez de 7,1%. Neste ano o investimento físico, também conhecido como formação bruta de capital fixo, deve encolher mais 6%, de acordo com o relatório.
"O desempenho dos investimentos no curto prazo", explicam os autores da análise, "está influenciado em parte por eventos não econômicos, associados ao risco hídrico, ao ambiente político e aos desdobramentos da 'Operação Lava Jato'." Pelo novo critério do IBGE, o cálculo do investimento deve incluir, além do conjunto dos gastos em capital fixo, as despesas em pesquisa e desenvolvimento. Mas programas desse tipo dificilmente devem expandir-se de forma significativa num cenário econômico de muita insegurança.
A crise também está refletida nas novas projeções do balanço de pagamentos, divulgadas no balanço mensal do setor externo e reproduzidas no relatório. O déficit em conta corrente projetado para o ano foi reduzido de US$ 83,5 bilhões para US$ 80,5 bilhões. Esse valor corresponderá a 4,2% do PIB, uma proporção ainda elevada. Além disso, a melhora prevista ocorrerá num cenário de encolhimento do comércio exterior. As projeções de exportação e de importação foram reduzidas de US$ 234 bilhões para US$ 210 bilhões e de US$ 228 bilhões para US$ 206 bilhões. Com isso, o saldo comercial foi reestimado de US$ 6 bilhões para US$ 4 bilhões. A melhora do resultado geral dependerá principalmente de reduções no déficit de serviços e de rendas, de US$ 91,6 bilhões para US$ 86,8 bilhões. Se confirmada, a diminuição das importações será explicável principalmente pela retração do mercado interno - tanto de consumo quanto de investimento. Mesmo com a alta do dólar, a exportação continuará muito fraca.
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