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É hora de liberar as escolas

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Por Redação
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Mesmo com a suspensão do plano de reorganização da rede estadual de ensino, escolas continuam ocupadas e ruas continuam sendo bloqueadas. Segundo informe da Secretaria Estadual da Educação, na quarta-feira passada, ainda estavam ocupadas 136 escolas. A causa original dos protestos já não existia. Caiu inclusive o secretário estadual de educação, Herman Voorwald, principal promotor do plano de reorganização escolar. Mas os alunos daquelas escolas decidiram não estudar. E, para isso, qualquer pretexto é bom.

Conforme noticiou o Estado, há uma disputa política pela liderança dos protestos. A organização “Comando das Escolas Ocupadas”, que se considera a única porta-voz dos manifestantes, está deslumbrada com o êxito das ocupações e parece não pretender devolver tão cedo os prédios públicos à sua finalidade educativa, ainda que para tanto precise inventar novas justificativas.

O monopólio do “Comando” é contestado pelos velhos movimentos estudantis, como a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes) e União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (Umes). Tradicionalmente encabrestadas pelo PCdoB e outros partidos de esquerda, essas organizações também querem a sua boquinha na onda de invasões. Há ainda o movimento Juntos, ligado ao PSOL, que brada orgulhoso a participação em ao menos sete invasões.

Iniciada como uma reivindicação escolar, a invasão das escolas transformou-se numa grande vitrine política. Muitos manifestantes não têm qualquer relação com o tema educativo, estando ali simplesmente para tumultuar. Ficou notório o caso do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), que coordenou algumas ocupações. No dia 9, a manifestação na Praça da República contou com a participação dos black blocs, com sua costumeira violência.

Alguns agitadores nem eram de São Paulo. Em um dos recentes protestos, foi presa a militante Camila Lanes, figura conhecida nas manifestações contra o governo do Paraná no início do ano, por ocasião da greve de professores da rede estadual. A organização estudantil da qual faz parte, a Ubes, viu na onda de protestos contra o plano de reestruturação escolar de São Paulo uma oportunidade para sair da irrelevância em que se encontrava há vários anos.

Desde o início dos protestos, havia a presença de um forte componente político-ideológico nas manifestações. Mas também havia – é preciso reconhecer – uma reivindicação legítima de muitos alunos e famílias a respeito do plano de reorganização escolar da rede estadual de ensino.

Ora, o governo do Estado reconheceu a legitimidade da reivindicação das famílias e suspendeu o plano. Além disso, o governador Alckmin assumiu o compromisso público de dialogar com cada unidade escolar antes de promover qualquer mudança. Com isso, só restou nas atuais ocupações a dimensão político-ideológica. Esse fato é extremamente grave. A escola pública já tem muitos desafios a enfrentar e envolvê-la em disputas partidárias é simplesmente uma aberração.

É passada a hora de desocupar as escolas. Não se trata de ignorar as inúmeras deficiências da educação pública e achar que tudo está resolvido. Há um longuíssimo caminho a ser percorrido, que exigirá a ativa participação de pais, alunos e professores. Mas é preciso reconhecer que, se o mote inicial dos protestos era contra o fechamento das escolas, agora quem está fechando escolas são os invasores, que impedem seu normal funcionamento.

Se merece reprovação um plano de reorganização escolar mal explicado e mal comunicado, também merece reprovação quem se aproveita da polêmica para fazer política partidária e proselitismo ideológico – e, ainda mais, com violência. Ao longo das últimas semanas, ficou evidente que a sociedade está atenta ao tema da educação pública. É um alerta aos movimentos que manipulam a causa da educação para seus interesses ideológicos.