
06 de abril de 2013 | 02h07
Na terça-feira, um dia antes de sair o Informe da CNI, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) havia informado os números da produção industrial de fevereiro, 2,5% menor que a do mês anterior. Esse recuo praticamente anulou o aumento de 2,6% contabilizado em janeiro, mas, apesar disso, o relatório oficial trouxe um resultado animador, algo como um ponto de luz num quadro ainda escuro. A produção de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos, cresceu 1,6% no mês e foi 9,1% maior que a de fevereiro do ano passado, de acordo com o levantamento do IBGE. Além disso, o resultado do primeiro bimestre ficou 13,3% acima do registrado um ano antes.
Nada disso foi suficiente para compensar, por enquanto, o desastre de 2012. A produção de bens de capital acumulada em 12 meses foi 7,8% menor que a do período imediatamente anterior. É cedo para dizer se há uma nova tendência, mas os números de janeiro e fevereiro criam a esperança de uma retomada do investimento, com as empresas voltando a ampliar e a renovar seu parque produtivo.
De toda forma, as previsões de investimento diminuíram desde o fim do ano. Em dezembro, a CNI projetava um aumento de 7%, parecido com aquele estimado pelo ministro da Fazenda, de 8%. As principais projeções incluídas no Informe foram reduzidas nos últimos três meses. A estimativa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) passou de 4% para 3,2%, praticamente a mesma do Banco Central (BC), 3,1%. O crescimento previsto para a indústria caiu de 4,1% para 2,6% - mas até esse resultado pode parecer satisfatório, depois do recuo de 0,8% em 2012.
Mas é preciso olhar para além de 2013. Não há, por enquanto, como sustentar qualquer otimismo, quando se consideram as perspectivas dos próximos anos. O investimento projetado pela CNI, com expansão de 4%, mal servirá para compensar o recuo do ano passado, quando o total investido em todos os setores da economia brasileira foi 4% menor que o de 2011.
Além disso, a formação bruta de capital continuará muito abaixo do nível necessário para sustentar um crescimento econômico em torno de 5% ao ano. O mínimo necessário para criar um dinamismo parecido com o de outros emergentes seria um investimento equivalente a uns 24% ou 25% do PIB. Vários países latino-americanos já chegaram lá. Em muitas economias da Ásia a proporção é igual ou superior a 30%.
Se o Brasil investir neste ano 4% mais que em 2012, a relação entre investimento e PIB subirá de 18,1% para 18,2% e continuará muito longe do desejável. A agenda necessária para mudar esse quadro é bem conhecida e inclui uma desoneração séria da atividade produtiva, algo muito diferente de uma porção de remendos mal costurados.
Do lado governamental será indispensável uma ampla reforma de usos, costumes e valores. O governo precisa decidir, entre outros pontos, se a sua função é organizar a vida coletiva e promover certos investimentos de importância fundamental ou, bem ao contrário, distribuir cargos e favores a companheiros e aliados e financiar empresas selecionadas sem critérios estratégicos. As últimas mexidas no Ministério reafirmam a preferência pela segunda hipótese.
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