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Educação reprovada

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Por Redação
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Criado por educadores, pesquisadores, empresários e gestores públicos com o objetivo de elevar a qualidade do sistema de ensino do País, o movimento Todos pela Educação desenvolveu vários mecanismos de avaliação para saber se as políticas educacionais estão surtindo efeito. Além de identificar escolas com bom desempenho para verificar se os métodos pedagógicos por elas adotados podem ser disseminados para toda a rede ensino, o movimento estabeleceu metas de produtividade para 2022, ano do bicentenário da Independência, e periodicamente divulga relatórios sobre a situação de cada uma delas. Uma das metas prevê que todas as crianças estejam na escola em 2022. Uma segunda meta estabelece que toda criança esteja alfabetizada até os 8 anos. Uma terceira meta estabelece que todas as crianças e jovens de 4 a 17 anos estejam matriculados na série mais adequada à sua idade. Uma quarta meta é de que os alunos concluam as três séries do ensino médio até os 19 anos. A quinta meta está relacionada aos investimentos e fontes de financiamento do setor educacional. O objetivo das cinco metas é garantir uma educação básica de qualidade para toda a população, no ano em que o Brasil comemorar dois séculos de Independência. Elaborado com base em dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), do Ministério da Educação (MEC) e do IBGE e intitulado De Olho nas Metas, o último relatório do movimento apresenta mais um retrato desolador da educação brasileira, especialmente no ensino médio. Segundo o estudo, 92% das crianças e jovens de 4 a 17 anos estavam estudando em 2011 - a expectativa era de que 94,1% estivessem matriculados. Isso significa que cerca de 3,8 milhões de crianças e jovens se encontravam fora da escola. O relatório informa que um em cada dez alunos da terceira série do ensino médio - a última antes do ingresso na universidade - teve desempenho adequado em matemática em 2011. O resultado ficou muito abaixo da meta prevista pelo Todos pela Educação para esse ano. No caso dos estudantes da rede escolar pública, o quadro é ainda pior: apenas 5,2% sabem o que deveriam de matemática no ensino médio. Em português, o índice foi de 29,2% - abaixo da meta de 31% prevista pelo movimento. Na 9.ª série do ensino fundamental, a situação não é muito diferente. Só 16,9% dos estudantes apresentaram nível de aprendizagem adequado em matemática - bem menos do que os 25,4% da meta fixada para 2011. O levantamento também aponta grande variação no desempenho dos alunos de Estado para Estado. Alagoas e o Maranhão são os Estados com os piores indicadores de desempenho escolar no ensino fundamental e no ensino médio. Minas Gerais e Santa Catarina foram os Estados que mais se destacaram no cumprimento das metas.O relatório do movimento Todos pela Educação evidencia as dificuldades que o Brasil enfrenta para se manter entre as maiorias e mais prósperas economias, diante de competidores empenhados em investir em ampliar os investimentos em educação, ciência e tecnologia. Mostra, também, que um ensino de má qualidade continua limitando o acesso dos jovens a empregos de qualidade na economia formal e condenando as novas gerações à ignorância. "Isso é uma tristeza. Quer exclusão maior do que aluno não saber o que deveria ter aprendido? Eles vão ter problemas com emprego e com continuidade do estudo no acesso ao ensino superior. Ou seja, estamos fazendo um funil. Se o aluno não aprende matemática, tem uma série de coisas que ele não vai conseguir fazer depois", diz Katia Smole, doutora em educação. Para os dirigentes do movimento Todos pela Educação, a falta de um currículo nacional é um dos fatores que têm impedido o ensino médio de melhorar sua qualidade. Já o MEC alega que está discutindo com as Secretarias Estaduais da Educação medidas para reestruturar esse ciclo de ensino. Essa tem sido a sina da educação brasileira: por mais que os dirigentes governamentais dialoguem, as políticas educacionais continuam marcadas por prioridades erradas e, mais grave, orientadas por interesses demagógicos.