
13 de junho de 2016 | 03h01
Não haverá riscos para o abastecimento, pois, mesmo com a diminuição em relação à safra anterior, a produção continuará muito alta. Embora possa haver queda em vários itens na comparação com a safra anterior, os estoques projetados para o final do ciclo dos produtos cuja cultura foi mais afetada pela escassez de chuvas e pelo excesso de calor estão em nível considerado confortável. Mas, de algum modo, a redução da produção de grãos será sentida pelos consumidores – não pela escassez, mas pelo preço.
O produto mais afetado pela adversidade do clima foi o milho, tanto da primeira como da segunda safras, prejudicadas pela estiagem prolongada e pelas altas temperaturas. A primeira safra deverá alcançar 26,2 milhões de toneladas, com queda de 3,9 milhões de toneladas. A segunda, que começa a ser colhida, deve ser 4,6 milhões de toneladas menor. No total, a produção de milho deve cair cerca de 10%, de 84,67 milhões de toneladas na safra 2014/2015 para 76,23 milhões de toneladas na atual.
Também a soja, responsável por praticamente a metade (48,7%) da produção nacional de grãos, teve sua safra prejudicada pelo clima, mas bem menos que a do milho. A queda da produção de soja deve ser de 0,6%. Isso afeta não apenas o preço da soja em grão; também ficaram mais caros o farelo e o óleo de soja.
Igualmente a produção de arroz, feijão e algodão deve recuar, por causa da redução da área plantada e das condições climáticas desfavoráveis. No caso do feijão, faltou chuva durante o plantio e houve excesso durante a colheita. Entre as culturas de inverno destaca-se o trigo, com produção de 5,88 milhões de toneladas, 6,3% maior do que a da safra anterior.
A combinação de aumento de 0,4% da área plantada (de 57,9 milhões de hectares para 58,2 milhões de hectares) e redução da produção resulta em queda da produtividade, outro efeito das dificuldades climáticas enfrentadas pelos produtores.
Seca no fim da safra do Nordeste brasileiro, problemas climáticos também na Argentina e dúvidas sobre o comportamento da futura safra dos Estados Unidos pressionaram os preços de importantes produtos agrícolas. Indicadores da inflação como o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), da Fundação Getúlio Vargas, que captam com mais intensidade os preços no atacado, registram o impacto da alta dos alimentos há algum tempo. O IGP-DI de maio, por exemplo, registrou alta de 1,13%, bem acima da variação de abril (de 0,36%), impulsionado especialmente pelos preços no atacado e, entre esses, os dos produtos agrícolas, que subiram 3,31% no mês passado. É notável a aceleração da alta: o preço do milho em grão subiu 9,61% em maio (contra 6,62% em abril) e a soja em grão, 14,01% (contra 3,00% no mês anterior).
Ainda que mitigado, esse aumento no atacado chegará aos preços ao consumidor, pois os grãos que ficaram mais caros são insumos que afetam decisivamente o preço da ração para frangos, suínos e, em alguma medida, bovinos. Em algum momento, os preços das carnes serão afetados.
Os alimentos tiveram influência marcante na alta de 0,78% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em maio e devem continuar a pressionar a inflação.
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