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Em nome do chefe

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Por Redação
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Em reunião com dirigentes petistas no último fim de semana, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, na aparente tentativa de tranquilizar os aliados que andam com a pulga atrás da orelha por causa da faxina no Ministério dos Transportes, garantiu que o governo não tem a intenção de promover uma "caça às bruxas", mas, sim, "um clima de ir para cima, de cobrar sempre que houver algum tipo de erro". Traduzindo: se a mídia apresenta denúncias consistentes o governo não pode deixar de tomar providências para coibir a corrupção, a ladroagem, ou melhor, para corrigir "algum tipo de erro" e dar uma satisfação à opinião pública. O erro, como se vê, não é cometer delitos, mas deixar-se apanhar com a boca na botija. Uma vez que Gilbertinho, como é carinhosamente chamado pela companheirada, é o seu mais fiel escudeiro e permaneceu no Palácio do Planalto exatamente para o leva e traz que interessa ao chefão, conclui-se que suas declarações traduzem exatamente o que o ex-presidente pensa a respeito dos escândalos de corrupção que têm abalado os primeiros meses do governo Dilma Rousseff. Nenhuma novidade para quem conhece a história do mensalão. A grande novidade é a crescente visibilidade de Gilberto Carvalho, depois de oito anos de discretíssima atuação, dentro do palácio, como secretário do então presidente. Sua ligação a Lula é tão estreita e íntima, que seria natural imaginar que ele permaneceria fisicamente perto do chefe qualquer que fosse o destino deste depois de dois mandatos. Mas Gilbertinho permaneceu no Palácio, instalado em sala próxima à da nova presidente, onde tem cumprido, cada vez com maior desenvoltura, o papel de olhos, ouvidos e voz daquele que deixou de ser, mas, de fato, continua se comportando como o supremo mandachuva. Na verdade, Gilberto Carvalho foi imposto a Dilma pelo patrono de ambos, no quadro do compreensível esquema que orientou a montagem da primeira equipe de seu governo. Ou seja, a sucessora aceitaria, por dever de lealdade, algumas "sugestões" do retirante. Como resultado desse peculiar arranjo, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República sente-se à vontade para manifestar opiniões que, claramente, se opõem ao que pensa aquela que oficialmente é sua chefe. Essa é uma evidência que se vem deliberadamente revelando nos contatos informais do ministro-secretário com repórteres que cobrem o Palácio do Planalto e com outros jornalistas que têm acesso a seu gabinete. E cada vez menos os recados de Gilberto Carvalho são protegidos pelo off the record. Dias atrás, quando Dilma já havia deixado claro que pretendia afastar todos os envolvidos nas denúncias de corrupção nos Transportes, inclusive o diretor-geral do Dnit, Gilberto Carvalho manifestou de forma igualmente clara aos jornalistas a convicção de que pelo menos a demissão do notório Luiz Antonio Pagot deveria ser empurrada com a barriga até que o indigitado retornasse das férias que havia solicitado exatamente para se colocar temporariamente a salvo de punição. Dilma não cedeu à pressão e Pagot, que havia ameaçado sair atirando se sua demissão fosse confirmada, acabou regressando mais cedo das férias e pedindo ele próprio para sair - pelo menos por enquanto, com a arma no coldre.Essa desenvoltura sem precedentes de Gilberto Carvalho se manifesta também em questões relativas ao PT. Repetindo em alto e bom som o que seu chefe tem defendido no partido - com a clara intenção de ficar livre para indicar nomes de sua preferência, como Fernando Haddad em São Paulo - o secretário-geral da Presidência condenou publicamente a realização de prévias para a escolha dos candidatos petistas à sucessão municipal do próximo ano. Com o contraditório argumento de que o partido não pode "pôr os projetos pessoais acima dos coletivos", garantiu que a realização de prévias seria, agora, "um desastre" para o PT. O comportamento, em assuntos do governo, do colaborador que teve de aceitar certamente não deixa a presidente satisfeita. Mas ela sabe que esse é um sapo que precisa engolir.