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Empreendedorismo no campo

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Por Redação
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Uma agropecuária próspera não é constituída apenas de agroindústrias modernas, capazes de produzir grandes quantidades de alimentos, fibras e carnes, para atender plenamente às necessidades do mercado interno, gerando excedentes exportáveis, que, no Brasil, tanto têm concorrido para a obtenção de superávits comerciais. Depende também de pequenos agricultores dedicados à produção de hortigranjeiros indispensáveis à mesa. E o Brasil, não obstante o avanço da soja, do café, do milho e da cana-de-açúcar, não tem tido problemas de abastecimento de legumes, hortaliças e frutas, graças à iniciativa de milhares de pequenos produtores, espalhados pelo País. O que se procura agora é modernizar esse setor, que, mesmo quando organizado em cooperativas, não atua geralmente como empresa, não agrega valor ao que produz e é muitas vezes prejudicado por intermediários na venda ao mercado.Reverter essa situação é o objetivo do Projeto de Desenvolvimento Sustentável - Microbacias II - Acesso ao Mercado, do governo do Estado de São Paulo e que conta com financiamento de US$ 45 milhões do Banco Mundial (Bird). A primeira fase do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas, encerrada em 2008 e que também contou com apoio do Bird, deu maior ênfase à preservação dos recursos naturais, sobretudo quanto ao trato do solo e conservação de água, sendo atendidas 70 mil famílias.Na fase que agora se inicia, o que se procura, segundo João Brunelli, da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral da Secretaria da Agricultura, é incentivar a atitude empreendedora por parte dos pequenos produtores rurais. "O agricultor precisa aprender a vender", comenta. "Muitas vezes, ele sabe produzir bem, mas acaba deixando que outros agreguem valor a seu produto." Muito ilustrativo é o caso da Cooperativa do Chuchu, de Amparo, fundada há dez anos, que hoje comercializa 3 mil toneladas do produto por ano, além de 36 itens, entre os quais hortaliças, frutas e legumes, segundo informa o Suplemento Agrícola deste jornal (10/8). A maior parte é adquirida pelas prefeituras dos municípios de Amparo e de Monte Alegre do Sul, e é destinada à merenda escolar. A Cooperativa agora planeja a construção de uma pequena unidade para processar e embalar a produção, de modo a poder alargar seu mercado, abrangendo toda a região de Campinas. Para isso, postula o apoio do Microbacias II. Pouco conhecido fora do meio rural, o programa não visa a implantar novos empreendimentos ou a socorrer sítios ou fazendas em dificuldades. Seu objetivo central é promover o desenvolvimento rural sustentável no Estado, ampliando as oportunidades de emprego e a inclusão social, mas a partir de iniciativas de negócios já existentes e que tenham projetos viáveis de expansão. No início, serão selecionados 25 projetos que procurem agregar valor à produção rural. O programa ainda está no estágio inicial, com prazo até o dia 19 para a inscrição dos projetos que queiram beneficiar-se dele. O número de projetos contemplados com financiamentos deve se elevar a 50 em 2012 e a 75 em cada ano seguinte até 2015.O programa pode financiar até 80% do custo de um projeto (até o limite de R$ 800 mil, cada um), mas não tem um cunho assistencialista. A Cooperativa do Chuchu, por exemplo, pretende aplicar R$ 1 milhão na construção de um galpão para processamento da produção, o que poderá trazer um incremento de 20% a 30% na renda dos seus associados. Já a Cooperativa dos Produtores Rurais entre Serras e Águas, de Bragança Paulista, que reúne 83 agricultores, pretende comprar equipamentos móveis e um galpão para processamento de 450 toneladas das frutas e hortaliças que produz, montando uma miniagroindústria em sua sede, a fim de auferir mais lucros.O produtor de morangos e legumes em Socorro Sidney Barrel sintetiza o avanço que se está buscando: "O produtor precisa aprender a enxergar seu negócio como empresário e perceber as oportunidades do mercado", o que concorrerá inclusive para fixar o homem no campo.