Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Emprego ruim, salário pior

Exclusivo para assinantes
Por Redação
3 min de leitura

Desde fevereiro, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, houve em todo o País um saldo líquido de contratações com carteira assinada, mas com salários menores do que os das vagas que se fecharam. Esse comportamento contradiz as afirmações do ministro Carlos Lupi de que o saldo positivo de emprego, em maio, "é a prova de que a recuperação está ocorrendo de forma coerente, permanente e segura". Informações mais esclarecedoras foram divulgadas pelo jornal Valor de segunda-feira: entre janeiro e abril, os empregos criados, além de insuficientes, foram de baixa qualidade.No período analisado, foram abertas 48,4 mil vagas, mas, na quase totalidade, a remuneração foi baixa: na faixa de até um salário mínimo, houve saldo líquido positivo de 57,5 mil empregos; de um a um e meio salário mínimo, de 83,9 mil; e na faixa de um e meio a dois salários mínimos, de 12,3 mil. Já nas faixas de dois a três mínimos, o saldo líquido foi negativo em 17,7 mil vagas; de três a cinco mínimos, em 14,9 mil; e, acima de cinco salários mínimos, negativo em 15 mil postos. Entre os problemas que afetam o mercado de mão de obra desponta a elevada rotatividade dos empregos. No primeiro quadrimestre, foram criadas 332,4 mil vagas com remuneração de até um e meio salário mínimo e fechadas 221,6 mil vagas com remuneração de um e meio a cinco salários mínimos. As empresas aproveitaram a rotatividade para contratar com salários mais baixos e exigir mais qualificação. Entre janeiro e abril, o saldo de empregados sem alfabetização foi reduzido em 16,2 mil, ante a redução de 9,7 mil pessoas no mesmo período de 2008. Situação semelhante ocorreu com os trabalhadores que cursaram o fundamental, completo ou incompleto. Reempregar-se foi possível para 89,2% dos trabalhadores com curso superior. Mas não tiveram tanta facilidade para encontrar novo emprego os trabalhadores que têm ensino médio (70%), ensino fundamental (82,2%) e os analfabetos (57%). "Essa é a lógica da alta rotatividade no Brasil", notou o economista do Centro de Estudos de Economia Sindical e do Trabalho da Unicamp, Anselmo Luís dos Santos. "Nos momentos em que o nível de desemprego aumenta, as empresas conseguem encontrar mais pessoas desempregadas com qualificação, dispostas a trabalhar por um salário mais baixo." Os dados do Caged relativos a maio confirmam a piora da qualidade dos cargos. No Brasil, em todas as atividades, houve saldo líquido de contratações de 131,5 mil pessoas. Mas na indústria, onde estão as melhores ocupações, o saldo de contratações foi de apenas 700 pessoas, em maio - e é negativo em 146,4 mil, nos primeiros cinco meses do ano. Nos últimos 12 meses, o saldo é negativo em 233,4 mil. Poucos setores da indústria de transformação, como alimentos e bebidas (13,3 mil vagas) e têxtil (2,1 mil), abriram empregos. Continuaram em forte queda as áreas de metalurgia (5,4 mil), mecânica (2,9 mil), calçados (1,9 mil), minerais não metálicos (1,5 mil), material elétrico e comunicações (1,5 mil) e madeira e mobiliário (1,4 mil). Em fase de colheita, foram abertas 52,9 mil vagas no setor agrícola; outras 44 mil foram abertas em serviços e 17,4 mil na construção civil - nos três casos, com salário médio inferior ao pago pela indústria. Além do mais, a criação de vagas foi concentrada, com destaque para os Estados de São Paulo (44,5 mil), Minas Gerais (37,5 mil), Paraná (11,6 mil), Espírito Santo (10 mil) e Bahia (9 mil). Foi ínfima a geração de vagas formais nas Regiões Norte, Nordeste, Sul e Centro-Oeste. Nos últimos 12 meses, até maio, o saldo líquido de vagas abertas foi de apenas 580 mil, ante 2,09 milhões nos 12 meses terminados em setembro de 2008. Ou seja, reduziu-se em mais de 1 milhão e meio o saldo de trabalhadores contratados, com carteira. Por ter havido saldo positivo de vagas, analistas acreditam que ficou para trás o pior momento do mercado de trabalho. Mas a recuperação não será rápida, sobretudo na indústria de transformação, que depende de exportações e da recuperação da economia global.