24 de agosto de 2014 | 02h05
É uma estranha prosperidade. Segundo os dados já disponíveis, a economia brasileira cresceu quase nada, se tiver crescido, no primeiro semestre, e economistas do setor privado estimam para o ano uma expansão inferior a 1%. Mas o Brasil visto de Brasília é quase sempre muito diferente do País conhecido no resto do território nacional.
O setor público brasileiro jamais diminuiu seus quadros nos últimos seis anos, desde o começo da recessão iniciada com o estouro da bolha financeira. O normal, em todos os níveis do governo, é o aumento das contratações. Em condições excepcionais, os quadros podem manter-se constantes, mas sempre por um período muito curto. Pode até haver adiamento de contratações, mas não corte de pessoal. Nos países mais adiantados a prática tem sido bem diferente.
Nos Estados Unidos, o nível total de emprego vem crescendo há alguns anos. O número total de empregados fora do setor rural diminuiu de 137,07 milhões em setembro de 2008 para 130,51 milhões em setembro de 2009. Em seguida veio a recuperação, a princípio lenta, depois mais rápida. Em setembro de 2013 já se havia recomposto o número de cinco anos antes. A recuperação foi garantida pelo setor privado. Em todo o setor governo, o total de empregados diminuiu, nesses anos, de 22,29 milhões para 21,75 milhões. São dados do Departamento do Trabalho.
A economia americana cresceu 1,9% no ano passado. Deve crescer 1,7% neste ano e 3% no próximo, segundo as contas do Fundo Monetário Internacional (FMI). O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro aumentou 2,5% em 2013 e deve expandir-se 1,3% em 2014 e 2% em 2015, também pelas projeções do FMI. Economistas brasileiros projetam resultados piores para o Brasil neste ano e no seguinte. Além disso, a inflação americana continua abaixo de 2% ao ano. A brasileira, próxima de 6%. Nos Estados Unidos, a taxa de desemprego era de 6,2% em julho. No Brasil, em junho, os desempregados eram 4,1% em Belo Horizonte, 5,3% no Rio de Janeiro, 6,5% no Recife e 6,6% em São Paulo. A greve dos funcionários do IBGE impediu a divulgação dos números das seis áreas metropolitanas cobertas pela pesquisa mensal. De toda forma, a comparação com os dados americanos, muito mais amplos, seria imperfeita. Mas os dados mostram: desemprego talvez pouco menor que o americano, economia menos dinâmica e inflação muito maior.
Em julho, segundo o Ministério do Trabalho, foram criados 11.796 empregos formais. Desde 1999 foi o pior resultado para o mês. Segundo o ministro, a geração de empregos chegou ao fundo do poço, mas, ainda assim, o Brasil é campeão na abertura de postos e os números vão melhorar. Talvez ele devesse levar em conta a qualidade dos empregos. Não é difícil de adivinhar se a produtividade média dos 402,97 mil trabalhadores contratados pelo setor governo é alta ou baixa. Nos serviços foram contratados 558,63 mil. São, na maior parte, funções de qualificação limitada e produtividade baixa.
Boa parte dos empregos oferecidos no Brasil tem sido compatível com uma política baseada mais no estímulo ao consumo do que na busca de eficiência. O crédito e a renda proporcionados por esses empregos são componentes importantes de um cenário marcado pela estagnação da indústria. Mas o Brasil vai bem e o mundo vai mal, segundo o governo.
Encontrou algum erro? Entre em contato