Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Entre Chávez e Capriles

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

A cinco dias da eleição presidencial venezuelana, na qual o caudilho Hugo Chávez, de 58 anos, busca se reeleger pela segunda vez para ficar no poder no mínimo até 2019, ou dois decênios consecutivos, a menor das incertezas diz respeito ao resultado do seu confronto com o jovem (40 anos) Henrique Capriles, candidato da ampla frente oposicionista Mesa da Unidade Democrática (MUD). Embora ele venha crescendo nas pesquisas, graças a uma campanha considerada "hiperativa", na qual percorreu 274 municípios em dois meses, batendo praticamente de porta em porta, a aposta mais segura ainda é na vitória de Chávez. O mais confiável dos levantamentos deu-lhe 10 pontos de vantagem na semana passada. Dos seis institutos empenhados em colher as intenções de votos dos 19 milhões de eleitores dessa nação polarizada até a medula, apenas um registrou empate técnico entre os contendores, com vantagem mínima para Capriles.As dúvidas relevantes se relacionam com o que poderá ocorrer na Venezuela a partir da jornada eleitoral do próximo domingo. Como reagirá o chavismo a um duvidoso, porém de forma alguma impossível, êxito da oposição? E como ficará o país, no terceiro mandato de um governante autocrático sob o risco de uma recidiva do câncer que o acometeu? O tumor na região pélvica foi diagnosticado há pouco mais de um ano. Chávez não se cansa de repetir que está curado, mas o seu desempenho na campanha - em razão da enfermidade ou do tratamento a que se submeteu - deixou patentes as limitações do antigo militar que fazia praça de sua disposição física e capacidade para discursar horas a fio. "As suas aparições públicas têm sido poucas e muitas vezes melancólicas", registrou um observador europeu. Recentemente, confessou em um comício, com lágrimas nos olhos, que se dependesse de sua vontade desceria do palanque para andar em meio à multidão, "como nos velhos tempos".O cenário é de instabilidade política, sejam quais forem os números proclamados pela autoridade eleitoral (que, diferentemente da do Brasil, é subordinada ao Poder Executivo). Chávez já invocou o fogo dos infernos contra os que ousarem ameaçar "as conquistas da revolução", falando em guerra civil se as urnas lhe forem adversas. Não é retórica: em caso extremo, o autocrata pode acionar as milícias "bolivarianas", recrutadas entre a população desempregada. Espalhadas pelo país, as organizações paramilitares leais ao regime se inspiram nos comitês de defesa do castrismo em Cuba. No sábado, em um ato político de Capriles nas proximidades de Barinas, cidade natal de Chávez, um atirador matou três ativistas da oposição. O governo anunciou a prisão de três suspeitos, mas negou que sejam funcionários civis ou policiais, como denunciou um líder do partido Primero Justicia, o principal membro da coligação MUD.Menos mal que, dias antes, o chefe do Estado Maior das Forças Armadas, Wilmer Barrientos, tenha exortado os atores políticos a respeitar a vontade do eleitorado, "como as Forças Armadas irão respeitar". Por via das dúvidas, além de ocupar quase todo o espaço na mídia eletrônica durante a campanha, deixando migalhas de tempo ao adversário, o governo estreará no pleito do dia 7 a votação em urnas eletrônicas - o que representaria um avanço democrático, não fosse a possibilidade de elas serem conectadas ao sistema também eletrônico de identificação biométrica dos eleitores. A mera possibilidade permite que o chavismo intimide os muitos milhões de votantes que dependem do Estado, a começar do avantajado corpo de servidores públicos. Por isso, os políticos oposicionistas nem tocam no assunto.Capriles tem conduzido uma campanha conciliadora, prometendo manter os programas de promoção social que, segundo dados oficiais, retiraram 30% dos venezuelanos da miséria. O seu foco é a monumental incompetência do governo, que dilapidou a estatal do petróleo PDVSA, provocou o desmanche da infraestrutura nacional, enquanto a inflação disparava e a criminalidade batia recordes. Até Chávez, entre advertências apocalípticas, passou a prometer "mais eficiência".