
15 de abril de 2015 | 02h05
O clube dos países com perspectivas piores que as do Brasil inclui a Rússia, enrolada no conflito com a Ucrânia, sujeita a sanções econômicas das principais potências capitalistas e enfraquecida pela baixa das cotações do petróleo. No caso da Venezuela, a queda de preço de seu principal produto de exportação nem chega a servir como desculpa. Nenhum acidente econômico pode ser mais devastador que 16 anos e 4 meses de poder bolivariano. A comparação com a Argentina é um pouco mais complicada, porque seus dados oficiais são amplamente desacreditados.
Pelas novas projeções do FMI, o Produto Interno Bruto do Brasil encolherá 1% em 2015 e crescerá 1% em 2016. A produção das economias avançadas aumentará 2,4% em cada um dos dois anos. No caso dos países emergentes e em desenvolvimento, a expansão projetada é de 4,3% neste ano e de 4,7% no próximo. Para a América Latina e o Caribe as estimativas indicam 0,9% e 2%, mas essa média é em grande parte determinada pelo péssimo desempenho de Brasil, Venezuela e Argentina. A região tem perdido impulso, mas essas três economias ainda carregam, não se sabe por quanto tempo, os efeitos de irresponsabilidade e incompetência acumulados em anos de populismo.
A análise da situação brasileira aponta alguns dados positivos. O mais importante é a busca de um novo rumo a partir de janeiro deste ano - um esforço para "fortalecer as políticas macroeconômicas e restabelecer a credibilidade". A avaliação inclui o reconhecimento da solidez do sistema bancário e da segurança proporcionada pelo volume de reservas cambiais. Mas essa segurança, poderia acrescentar o FMI, pode minguar em pouco tempo, se o governo for incapaz de reconquistar a confiança dos mercados e de impedir uma deterioração maior das contas externas.
As projeções para o Brasil são baseadas nos critérios em vigor até 2014 e substituídos pelo IBGE. Por esses critérios, o investimento projetado para este e para os próximos anos continuará abaixo de 20% do PIB. Poderia, talvez, ser um pouco maior, se os cálculos seguissem a nova metodologia. Mas a diferença seria muito pequena e o total investido continuaria muito inferior ao necessário para tornar a economia mais dinâmica e competitiva.
O programa de reformas anunciado em janeiro é saudado como boa notícia, mas cobre apenas parte das tarefas necessárias. Os economistas do Fundo apontam reformas consideradas críticas para a expansão da capacidade produtiva e do potencial do crescimento. Recomendam prioridade para investimento em infraestrutura, reforma tributária, melhora da educação e abertura comercial, temas amplamente explorados por analistas brasileiros pelo menos desde o segundo mandato do presidente Lula.
Mas a lista de recomendações inclui também alterações na governança das estatais. A referência mais evidente é o escândalo da Petrobrás, citado no Panorama Econômico Mundial, o mais importante relatório periódico do Fundo. Enquanto as diretorias das estatais forem sujeitas a aparelhamento e loteamento, nenhum critério sólido de governança será aplicado a essas empresas. Além disso, o anúncio de novos padrões pouco valerá enquanto as estatais tiverem de seguir políticas de preços e estratégias de investimentos e de compras decididas no Palácio do Planalto. Ninguém entrou nesses detalhes, mas todos são conhecidos pelos investidores.
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