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Por Redação
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A inflação ainda preocupa, é cedo para baixar os juros e os dirigentes do Banco Central (BC) nem tentam disfarçar sua inquietação diante da provável evolução dos preços nos próximos meses. A acomodação dos indicadores, desde o fim do primeiro semestre, deve ser logo substituída por um repique de aumentos. Os economistas do mercado continuam projetando uma alta superior a 6%, neste ano, para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Mostrar otimismo e cortar a Selic, a taxa básica, atualmente em 11%, seria um recado imprudente. Ao anunciar a manutenção da taxa, na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom), formado por diretores do BC, mostrou, sobretudo, pouca disposição para fazer marola. Pode ainda estar à espera de efeitos - ou mais efeitos - da última alta de juros, decidida em abril. A menos de um mês da eleição presidencial, o pessoal do comitê se mantém discreto, com perfil baixo, sem fornecer novo material para discussão e especulação.Mas por que insistir na taxa de 11% quando a atividade econômica vai tão mal? O balanço do primeiro semestre indicou uma recessão - dois trimestres consecutivos de produção em queda. Além disso, só com muito otimismo se pode interpretar o aumento da produção industrial em julho, de 0,7%, como sinal inequívoco de retomada. Afinal, a queda no mês anterior havia chegado a 1,4%. A atividade industrial em julho nem retomou, portanto, o nível de maio. Para falar de recuperação será preciso esperar novos indicadores. Nenhum dos conhecidos até agora justifica uma avaliação menos sombria.No entanto, o pessoal do Copom decidiu por unanimidade manter a Selic em 11%. Com divulgação prevista para a próxima quinta-feira, a ata da reunião deverá indicar por que os diretores do BC escolheram esse caminho. A explicação incluirá, como sempre, uma referência às suas expectativas em relação à atividade econômica e aos preços. O texto permitirá, também, apostas mais seguras quanto a uma eventual mudança de rumo nas discussões previstas para a reunião de 28 e 29 de outubro.Por enquanto, economistas do mercado financeiro se empenham em decifrar o comunicado distribuído na quarta-feira à noite, depois de encerrado o trabalho do Copom. O texto é familiar: "Avaliando a evolução do cenário econômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 11% ao ano, sem viés". Só houve uma diferença em relação à linguagem do comunicado anterior: desapareceu a expressão "neste momento". Isso deve indicar, segundo os decifradores ouvidos pela imprensa, a disposição de manter ou reduzir a Selic em outubro.Pode ser, mas será difícil de justificar a redução, se o repique dos aumentos de preços for parecido com aquele projetado pelos economistas do setor financeiro e das consultorias. Além disso, as contas públicas dificilmente estarão em melhores condições no fim de outubro. Tudo indica, por enquanto, exatamente o contrário. O Tesouro só parece dispor de receitas extraordinárias, como dividendos de estatais, receitas de impostos atrasados e bônus de concessões, para melhorar as contas nos próximos meses.As contas federais continuam sendo importante fator inflacionário e o pessoal do BC sabe disso. Aceitar receitas extraordinárias como sinais de melhora do balanço fiscal seria endossar uma embromação.Por enquanto há uma espécie de trégua no front dos preços. A inflação está mais ou menos acomodada e o Copom tem algum tempo para esperar novos sinais e decidir os próximos passos. Sua política já foi, de certa forma, afrouxada, com a liberação de depósitos compulsórios para empréstimos bancários. Se a procura de mais financiamentos continua insuficiente para a absorção do novo dinheiro disponível, é porque empresários e consumidores devem estar inseguros. Seria estranho se mostrassem disposição muito maior de se endividar. A economia permanece fraca, mas, apesar disso, o risco de mais inflação parece longe de ser desprezível. Essa parece, neste momento, a opinião predominante no Copom.

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