05 de setembro de 2014 | 02h06
Mas por que insistir na taxa de 11% quando a atividade econômica vai tão mal? O balanço do primeiro semestre indicou uma recessão - dois trimestres consecutivos de produção em queda. Além disso, só com muito otimismo se pode interpretar o aumento da produção industrial em julho, de 0,7%, como sinal inequívoco de retomada. Afinal, a queda no mês anterior havia chegado a 1,4%. A atividade industrial em julho nem retomou, portanto, o nível de maio. Para falar de recuperação será preciso esperar novos indicadores. Nenhum dos conhecidos até agora justifica uma avaliação menos sombria.
No entanto, o pessoal do Copom decidiu por unanimidade manter a Selic em 11%. Com divulgação prevista para a próxima quinta-feira, a ata da reunião deverá indicar por que os diretores do BC escolheram esse caminho. A explicação incluirá, como sempre, uma referência às suas expectativas em relação à atividade econômica e aos preços. O texto permitirá, também, apostas mais seguras quanto a uma eventual mudança de rumo nas discussões previstas para a reunião de 28 e 29 de outubro.
Por enquanto, economistas do mercado financeiro se empenham em decifrar o comunicado distribuído na quarta-feira à noite, depois de encerrado o trabalho do Copom. O texto é familiar: "Avaliando a evolução do cenário econômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 11% ao ano, sem viés". Só houve uma diferença em relação à linguagem do comunicado anterior: desapareceu a expressão "neste momento". Isso deve indicar, segundo os decifradores ouvidos pela imprensa, a disposição de manter ou reduzir a Selic em outubro.
Pode ser, mas será difícil de justificar a redução, se o repique dos aumentos de preços for parecido com aquele projetado pelos economistas do setor financeiro e das consultorias. Além disso, as contas públicas dificilmente estarão em melhores condições no fim de outubro. Tudo indica, por enquanto, exatamente o contrário. O Tesouro só parece dispor de receitas extraordinárias, como dividendos de estatais, receitas de impostos atrasados e bônus de concessões, para melhorar as contas nos próximos meses.
As contas federais continuam sendo importante fator inflacionário e o pessoal do BC sabe disso. Aceitar receitas extraordinárias como sinais de melhora do balanço fiscal seria endossar uma embromação.
Por enquanto há uma espécie de trégua no front dos preços. A inflação está mais ou menos acomodada e o Copom tem algum tempo para esperar novos sinais e decidir os próximos passos. Sua política já foi, de certa forma, afrouxada, com a liberação de depósitos compulsórios para empréstimos bancários. Se a procura de mais financiamentos continua insuficiente para a absorção do novo dinheiro disponível, é porque empresários e consumidores devem estar inseguros. Seria estranho se mostrassem disposição muito maior de se endividar. A economia permanece fraca, mas, apesar disso, o risco de mais inflação parece longe de ser desprezível. Essa parece, neste momento, a opinião predominante no Copom.
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