
02 de dezembro de 2014 | 02h05
A escolha dos três nomes já era esperada e a apresentação foi essencialmente uma confirmação formal. A expectativa de mudança política foi reforçada principalmente pela indicação do economista Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, por ser um nome sem vinculação com a presidente Dilma Rousseff e por sua reputação de severidade na gestão fiscal.
Mas ele e os demais escolhidos - Nelson Barbosa para assumir o Ministério do Planejamento e Alexandre Tombini para permanecer na chefia do BC - foram igualmente enfáticos ao defender o ajuste fiscal e o combate à inflação como condições do crescimento econômico e da continuidade da inclusão dos pobres no mercado. Nenhum dos três prometeu uma bala mágica ou um pacote milagroso e também o tom realista foi um dado positivo.
Até surgirem detalhes das novas políticas, o mercado poderá, no máximo, apostar em tempos melhores a partir de 2016. Se o trabalho for bem feito, 2015 será um ano de arrumação e de medidas provavelmente desagradáveis e alguns indicadores ainda poderão piorar.
A mediana das projeções da inflação subiu de 6,45% para 6,49%. Essa estimativa deve incluir o efeito da liberação de alguns preços politicamente controlados nos últimos anos. Também haverá o efeito de realimentação dos valores contratuais. No intervalo de quatro semanas a previsão de alta dos preços administrados passou de 7% para 7,1% e depois para 7,2%. Para os juros básicos no fim do ano foi mantida a expectativa de 12%, mas a taxa média do período subiu de 11,96% para 12,17%. Logo, o aperto deverá aumentar mais velozmente do que se imaginava até a semana anterior.
As condições de crescimento continuarão ruins. A projeção de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) foi reduzida de 0,8% para 0,77%. A baixa produtividade e o investimento deficiente, confirmado pelas contas nacionais atualizadas até o terceiro trimestre, justificam a expectativa de baixo dinamismo por mais um ano. A esperada faxina fiscal e o provável aumento dos juros tornam difícil de apostar em um desempenho econômico melhor que o deste ano. Falta ver, no entanto, como as expectativas dos empresários afetarão sua disposição para investir. Investimentos maiores poderão impulsionar a atividade já no curto prazo, mas essa hipótese, por enquanto, está fora das projeções.
A expectativa de crescimento industrial continua tão pouco otimista quanto a projeção do PIB. A expansão do produto industrial estimada para 2015 caiu de 1,3% para 1,13%.
A perspectiva do comércio exterior continuou piorando. O saldo comercial esperado para o próximo ano passou de US$ 6,5 bilhões para US$ 6,31 bilhões. Não há como ser otimista, diante do baixo poder de competição da indústria - um dado dificilmente alterável a curto prazo - e da esperada piora dos preços de matérias-primas exportadas pelo Brasil.
Com o déficit comercial de US$ 4,22 bilhões em 11 meses, o PIB estagnado até o terceiro trimestre, a inflação longe da meta de 4,5% e as contas públicas estraçalhadas, 2014 é um ano liquidado. Qualquer melhora nas expectativas para 2015 dependerá da clara indicação de uma nova política pela equipe escolhida e principalmente pela presidente Dilma Rousseff.
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