10 de dezembro de 2015 | 02h56
Essa baixaria que enxovalha a imagem do Parlamento e consterna o sentimento democrático dos brasileiros foi agravada pelo fato de o comportamento indecoroso das falanges governistas ter sido correspondido, quase na mesma medida – e aí não há como se alegar legítima defesa –, por oposicionistas e dissidentes da base aliada. Em resumo: o PT mostrou mais uma vez sua verdadeira cara e até que ponto contaminou a política brasileira com o vírus de sua truculência política – que não dispensa a ajuda do mais puro fisiologismo.
Se tivessem tido um pouco de paciência, os petistas teriam se poupado do vexame e se limitado a comemorar a decisão do ministro Edson Fachin, que acolheu recurso apresentado por seus dóceis comparsas do PCdoB, pedindo a anulação da votação sob o argumento de que não poderia ter sido secreta. Foi uma clara manobra para não envolver diretamente o PT no contencioso jurídico. A votação para a eleição da Comissão Especial não foi revogada, apenas suspensa até que, na próxima quarta-feira, o plenário do STF se manifeste sobre o mérito do recurso.
Apesar de todos os pesares e levando em conta que, como de hábito, Eduardo Cunha esticou sua autoridade de presidente da Casa para impor seus pontos de vista, o triste espetáculo promovido pelos deputados demonstrou claramente que Dilma Rousseff pode até, no limite, obter os 172 votos necessários para impedir que o pedido de seu impeachment seja encaminhado ao Senado, mas continuará não tendo uma sólida base de apoio na Câmara.
Essa perspectiva é particularmente grave e preocupante considerando que, se sobreviver ao impeachment – e, sobretudo, se tiver a capacidade e a humildade de aprender com os erros primários que comete há cinco anos e se disponha a corrigir-se –, Dilma terá de governar a partir de um programa capaz de promover no mais curto prazo possível a recuperação da economia. E ao mesmo tempo terá de administrar as demandas sociais, que tendem a se avolumar com as dificuldades econômicas. É impossível para qualquer governo dar conta de tantas e tão graves responsabilidades sem uma sólida base de apoio no Congresso, coisa que não cairá no colo de Dilma apenas com a rejeição do pedido de impeachment.
Além disso, a enorme impopularidade de Dilma resulta em que 2 em cada 3 brasileiros querem vê-la fora do Planalto. Essa tendência pode chegar às ruas, convulsionando o ambiente social e, com toda certeza, refletindo-se na debilitação da base de apoio.
Têm razão, portanto, os estrategistas do governo, quando tentam abreviar ao máximo a tramitação do impeachment, porque sabem que o tempo age contra a presidente – tanto solapando suas oportunidades de sobrevivência quanto aumentando as dificuldades para solucionar a crise.
Além disso, o enfrentamento dessa crise depende da soma de apoios que até agora Dilma Rousseff e seu governo se revelaram incapazes de garantir, por serem refratários a parcerias estáveis – como o episódio com Michel Temer acaba de mostrar. Assim, se Dilma salvar-se do impeachment é provável que a cena política continue gravemente conturbada pela incontrolável gana de vendetta dos petistas. E que falte aos petistas o reconhecimento de que o modelo econômico que impingiram ao País – uma insana mescla de populismo, estatismo e desprezo pelos mais sadios fundamentos da economia – só leva ao desastre e a nada mais. Só restará então torcer para que 2018 chegue logo.
Encontrou algum erro? Entre em contato