06 de maio de 2010 | 00h00
O principal desafio para esses países, segundo o estudo, é remanejar os instrumentos de política econômica para evitar bolhas, conter pressões inflacionárias e evitar problemas nas contas externas. A lição do passado é evocada: períodos de financiamento farto e rápido crescimento desembocaram, com frequência, em recessões.
Em países onde o potencial produtivo está sendo ocupado velozmente será preciso iniciar o ajuste mais cedo. É o caso do Brasil. O risco de superaquecimento já foi apontado no Panorama Econômico Mundial, divulgado em abril pelo FMI. A maior parte dos indicadores brasileiros o confirma.
A distância entre o produto real e o potencial é cada vez menor, no setor industrial. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o uso da capacidade instalada passou de 81,1% em fevereiro para 82,6% em março, descontados os fatores sazonais. O indicador, segundo a entidade, ainda está 0,6 ponto porcentual abaixo do nível observado antes da crise. Mas essa ressalva está longe de ser, como pretendem seus autores, tranquilizadora: quando a crise chegou, em 2008, a economia nacional estava inegavelmente superaquecida e o rápido aumento das importações comprovava esse fato.
O quadro atual é muito parecido, com sensíveis pressões inflacionárias e um rápido encolhimento do saldo comercial. De janeiro a abril, a receita das vendas ao exterior foi 25% maior que a de um ano antes. Mas o gasto com as compras ficou 41,8% acima do registrado nos primeiros quatro meses de 2009. Comparados os dois períodos, o superávit comercial diminuiu de US$ 6,7 bilhões para US$ 2,2 bilhões. A média diária encolheu 67,4%.
A redução do saldo comercial é atribuível a várias causas. Uma das mais importantes é a valorização cambial ? um evento normal em períodos de grande influxo de capitais, como lembram os economistas do FMI. Um dos efeitos da mudança nas condições de comércio é o crescimento do déficit na conta corrente do balanço de pagamentos. Essa conta foi superavitária em vários países latino-americanos, antes da crise. A inversão, no Brasil, começou antes da recessão e agravou-se recentemente.
Os economistas do FMI receitam, para redução de riscos, maior rigor fiscal e medidas acauteladoras. Por enquanto, medidas preventivas foram tomadas pelo Banco Central. A primeira foi a elevação dos depósitos compulsórios dos bancos, uma forma de contenção do crédito. O aumento dos juros básicos já começou. Mas uma política fiscal mais severa, com menor expansão do gasto público, permitiria uma política de juros mais branda. Isso reduziria a atração de capitais em busca de ganho fácil e as pressões para valorização do real.
Medidas preventivas são especialmente importantes diante dos perigos criados pela crise na Europa. Um surto de aversão ao risco poderá causar problemas graves ao Brasil e a outros emergentes. Também isso torna oportuna a advertência do FMI e o lembrete do jornal Financial Times aos latino-americanos, incluído o Brasil: "As piores quedas", diz o jornal, "ocorrem quando se está cantando de galo."
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