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Exemplo do Espírito Santo

O caminho para evitar uma crise de grandes proporções na segurança pública é o apontado pelo Espírito Santo

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Por Redação
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O governo do Espírito Santo resolveu dar uma dura resposta à greve da Polícia Militar (PM), diante da intransigência das lideranças do movimento, adotando as medidas mais rígidas possíveis para punir os responsáveis por deixar a população à mercê dos bandidos há uma semana, ao mesmo tempo que assegura que a corporação será “reconstruída”. Este é o melhor caminho para restabelecer a disciplina na PM, restaurar a ordem pública com a ajuda das Forças Armadas e da Força Nacional e evitar que a crise se propague para outros Estados.

Depois de uma malograda tentativa de entendimento com os grevistas – que apresentaram condições inaceitáveis, como aumento salarial de 43% e nenhuma punição para os participantes desse movimento ilegal –, o governo anunciou ontem que 703 policiais militares foram indiciados por crime de revolta. Número que deve “aumentar muito”, segundo o comandante da PM, coronel Nylton Rodrigues. E as mulheres dos policiais que participam da encenação de cercar os quartéis, para “impedir” que eles voltem ao trabalho, estão sendo identificadas e serão responsabilizadas pelos custos da operação das Forças Armadas e da Força Nacional. Essa linha de conduta foi anunciada um dia antes pelo governador Paulo Hartung – licenciado para tratamento de saúde, que deve reassumir seu posto no começo da próxima semana, mas já está trabalhando – em entrevista ao canal de televisão GloboNews.

Garantiu ele que, tendo em vista a gravidade da situação – pois os policiais grevistas de certa forma sequestraram a população para exigir como resgate um aumento de salário –, a corporação tem de ser inteiramente reestruturada.

Com o indiciamento de mais de 700 policiais – de um total de 9.382 –, o governo passou prontamente das palavras aos atos e não deixou dúvidas de que é isso mesmo que vai acontecer. A pena prevista para os policiais pelo crime de que são acusados pode chegar a 20 anos de prisão. Como pena de mais de dois anos de prisão acarreta expulsão automática da corporação – e como se prevê que o número de punidos ao final do processo deve ser elevado –, a PM terá mesmo de ser “reconstruída”, como afirmou o secretário de Segurança, André Garcia. Ele anunciou também que foi criada uma força-tarefa na Corregedoria da PM para acelerar os procedimentos, “com isenção”, e que os indiciados terão seu ponto cortado desde sábado, quando começou a greve. 

Naquela mesma entrevista, Hartung contestou a afirmação dos grevistas de que os salários da PM capixaba são os mais baixos do País. Não são os mais altos, estão na décima posição, dentro do que realisticamente um Estado como o Espírito Santo pode pagar.  Ele chamou a atenção para um outro aspecto importante da questão, que diz respeito ao funcionalismo dos Três Poderes, em todo o País. Os policiais, como os demais servidores públicos, têm em relação aos outros trabalhadores uma grande vantagem, em especial neste momento de grave crise por que passa o País, com mais de 12 milhões de desempregados – a estabilidade no emprego. Mesmo que seus salários não sejam os ideais, desfrutam de uma situação muito melhor que os outros para enfrentar as dificuldades, o que não tem impedido várias categorias de servidores de promoverem repetidas e longas greves.

Ao tratar com tal rigor a greve selvagem da PM – pela qual a população do seu Estado está pagando um alto preço, num ambiente que beira o pânico –, o governo capixaba não apenas escolheu a melhor solução para ele mesmo. Com isso, está dando também um exemplo que serve de advertência para as PMs de outros Estados, como Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde familiares dos policiais já tentam repetir a encenação do Espírito Santo, cercando quartéis, apesar de o governador Luiz Fernando Pezão ter tentado acalmar os ânimos anunciando aumento salarial de 10,22%.

O caminho para evitar uma crise de grandes proporções na segurança pública é o apontado pelo Espírito Santo.