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Exportações em risco

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Por Redação
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O Brasil perderá US$ 10 bilhões de receita comercial no próximo ano, por causa do esfriamento da economia global e da redução dos preços de commodities, segundo o economista Fábio Silveira, da RC Consultores, citado em reportagem do Estado. O barateamento dos produtos básicos também está nas contas do Banco Central (BC) e essa perspectiva foi invocada para justificar o corte dos juros. As projeções dos especialistas variam, mas coincidem em pelo menos dois pontos. As cotações de produtos básicos e semimanufaturados deverão cair, se o crescimento chinês perder impulso e os mercados desenvolvidos continuarem estagnados. Além disso, serão afetados principalmente os preços dos minérios, porque a oferta de alimentos permanecerá apertada dando sustentação internacional aos preços agrícolas. Se essas expectativas forem confirmadas, o BC e o governo terão um ponto a favor de sua política de redução de juros, mas o superávit comercial diminuirá e o déficit na conta corrente do balanço de pagamentos aumentará. As autoridades parecem pouco interessadas, no entanto, em fortalecer as contas externas por meio de um aumento das exportações. Pelos cálculos de Fábio Silveira, o saldo comercial cairá de US$ 30 bilhões em 2011 para US$ 20 bilhões no próximo ano. Pelas estimativas do setor financeiro e de consultores independentes, coletadas pelo BC, o superávit na conta de mercadorias passará de US$ 27 bilhões para US$ 18,9 bilhões. As variações são muito parecidas. Além disso, o mercado projeta um aumento do déficit em conta corrente de US$ 55 bilhões neste ano para US$ 68,9 bilhões em 2012, portanto, maior do que o investimento estrangeiro direto previsto para o próximo ano, de US$ 53 bilhões. Projeções são muitas vezes desmentidas pelos fatos, mas esse ponto é secundário neste momento. A mera perspectiva de forte redução dos preços de algumas commodities obriga a uma reflexão sobre a estrutura das exportações brasileiras e sobre as principais parcerias comerciais do País. Por muitos anos, as vendas de manufaturados garantiram a maior parte da receita comercial brasileira. Isso mudou há algum tempo e a dependência em relação às commodities ainda se acentuou em 2011. De janeiro a outubro os exportadores brasileiros faturaram US$ 212,1 bilhões, 29,3% mais do que um ano antes. Quase metade (48%) desse valor foi proporcionada pelas vendas de produtos básicos. Se forem considerados também os semimanufaturados, como açúcar em bruto, celulose, óleo de soja em bruto e certos produtos metálicos, as commodities terão gerado 62,1% da receita comercial. Esse resultado, essencial para o superávit na conta de mercadorias, dependeu neste ano, como em 2010, principalmente dos bons preços no mercado internacional. Na média, os preços cresceram bem mais do que os volumes embarcados e isso se deveu em boa parte à demanda chinesa, ainda muito vigorosa, e à de outros emergentes, principalmente asiáticos.Este é outro dado importante para a avaliação da estratégia nacional: neste ano, até outubro, os mercados da Ásia garantiram 30,2% da receita brasileira de exportações. Nenhuma outra região teve peso tão grande no faturamento comercial brasileiro. A China absorveu 17,5% das exportações brasileiras, medidas em dólares. Nessa parceria, o mercado chinês comprou quase só commodities e vendeu quase só produtos manufaturados. As cotações de commodities são mais sujeitas a oscilações do que os preços dos manufaturados. Mas o governo brasileiro exibe outras preocupações quando se trata da indústria. Cria barreiras contra a importação, mas pouco faz para apoiar as exportações. Em vez disso, uma das novidades que nos reservou para este ano foi a redução do Proex. O orçamento do Proex-Financiamento, fixado inicialmente em R$ 1,3 bilhão, foi cortado para R$ 800 milhões, segundo informou nesta segunda-feira o jornal Valor. Faz-se o oposto nas potências comerciais, onde o principal objetivo é tornar a produção competitiva para ganhar mercados e gerar empregos. Pior para os brasileiros, melhor para os concorrentes.