11 de abril de 2011 | 00h00
Mais de dois terços - 69% - das 1.616 empresas consultadas na pesquisa indicaram dificuldades para recrutar trabalhadores qualificados. A maior escassez é de pessoal para a produção, tanto de nível superior quanto de nível técnico. A pesquisa cobriu atividades extrativas e 26 segmentos da indústria de transformação. Em 12 desses 26 segmentos, 100% das companhias informantes apontaram problemas para contratar operadores de produção. No setor extrativo, a falta de pessoal qualificado foi mencionada por 74% das fontes.
Mas esses números ainda não mostram a mais grave das deficiências. Diante da falta de pessoal com as qualificações necessárias, a maior parte das empresas trata de oferecer treinamento aos trabalhadores. Essa alternativa foi apontada por 78% das companhias consultadas. Mas esse esforço nem sempre dá resultados, porque boa parte da mão de obra disponível carece da formação mínima para receber treinamento profissional. A escassez, portanto, não é apenas de mão de obra qualificada, mas também de mão de obra com preparo suficiente para qualificar-se no trabalho.
Segundo a pesquisa, 86% das pequenas empresas e 77% das grandes têm dificuldade para treinar os trabalhadores. Muitos empregadores se dispõem a investir na formação de pessoal, mas essa disposição não basta para a solução do problema.
A maior parte dos problemas de competitividade da indústria brasileira tem origem fora dos muros da fábrica. Direta ou indiretamente o setor público é responsável por essas dificuldades. Impostos, burocracia, segurança jurídica e a maior parte dos investimentos em infraestrutura dependem da ação governamental, em todos os níveis administrativos e com participação de todos os Poderes. Pode-se alongar essa lista com a inclusão da qualidade do ensino. Embora o setor privado tenha uma importante participação no sistema de ensino, as principais linhas de orientação do setor são definidas pela autoridade estatal.
No Brasil, o poder público tem falhado em atribuir à educação a prioridade compatível com a ambição de construir um país moderno e capaz de ocupar um espaço crescente na economia global. A economia brasileira tornou-se uma das maiores do mundo, mas só se manterá nessa posição se as suas empresas puderem competir com sucesso.
Se todos os demais problemas forem resolvidos, ou pelo menos atenuados, o poder de competição das empresas brasileiras ainda será comprometido pela escassez de recursos humanos qualificados. A universalização do ensino básico, especialmente a partir dos anos 90, foi sem dúvida um avanço importante. Mas é preciso ir muito além desse ponto, até porque as condições do jogo no mercado internacional não são definidas pelo Brasil, mas pelos competidores mais preparados e mais dinâmicos.
A mera multiplicação de cursos não basta para resolver o problema. A política educacional do Brasil, nos últimos oito anos, foi definida principalmente como "política social". Multiplicaram-se faculdades, criaram-se facilidades de acesso aos cursos universitários e realizou-se um grande esforço de "inclusão". Mas essa "inclusão" é ilusória, quando os pilares do sistema - os cursos fundamental e médio - oferecem uma preparação muito precária à maior parte dos estudantes. O Brasil ainda tem cerca de um quinto de analfabetos funcionais na população com idade igual ou superior a 15 anos. Nenhuma discussão séria pode menosprezar esse dado.
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