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Fatia maior de bolo menor

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Por Redação
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Como era previsível, o aumento das incertezas a respeito da evolução da economia mundial, o temor de aprofundamento da crise da dívida da Europa e a desaceleração das economias emergentes provocaram a redução do fluxo mundial de investimentos diretos estrangeiros. No primeiro semestre de 2012, o total alcançou US$ 668 bilhões, 8% menos do que no primeiro semestre de 2011, de acordo com o Monitor de Tendências do Investimento Global elaborado pela Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad). Esse resultado fez a agência da ONU rever sua projeção para o fluxo de investimentos até o fim do ano. De um aumento de 5% sobre o resultado do ano passado, de US$ 1,5 trilhão, agora ela projeta crescimento zero.Mas, além de confirmar as previsões de queda do fluxo de investimentos externos, o estudo mostra grandes mudanças nos fluxos desses investimentos, algumas que já vêm sendo notadas desde o início da crise mundial, em 2008, e outras mais recentes.A crise afetou duramente as economias desenvolvidas e, em contrapartida, tornou os países emergentes mais atraentes para os investidores. Por isso, era crescente a fatia dos investimentos diretos estrangeiros destinados a esses países. Nos primeiros seis meses deste ano, pela primeira vez desde que a Unctad passou a fazer o balanço semestral do fluxo desses investimentos, os emergentes absorveram 50% do total. É uma fatia maior, mas de um bolo que encolheu.A fatia que coube ao Brasil diminuiu 9%, uma queda mais acentuada do que a do fluxo global, razão pela qual o País caiu da quinta para a sexta posição entre os maiores receptores de investimentos estrangeiros. Para o economista da Unctad Rolf Traeger, isso não significa piora acentuada nas condições brasileiras. Ele lembra que o nível de investimentos diretos estrangeiros no Brasil continua elevado, pois eles dobraram nos últimos dois anos.Foi US$ 23 bilhões menor o fluxo de investimentos para o conjunto de países que formam a sigla Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Essa queda e a redução de US$ 37 bilhões dos investimentos recebidos pelos Estados Unidos respondem por grande parte da diminuição global observada no primeiro semestre do ano.A acentuada queda dos recursos absorvidos pelos Estados Unidos retirou temporariamente o país da condição de maior receptor dos investimentos diretos estrangeiros, que incluem fusões e aquisições, investimentos em novas fábricas, reinvestimentos de lucros e empréstimos entre unidades de uma mesma corporação internacional. A China assumiu a primeira posição, mas não deverá mantê-la até o fim do ano, pois, em razão de vultosas aquisições já anunciadas de empresas americanas por grupos japoneses, os EUA deverão retomar o posto ao longo do segundo semestre.Países latino-americanos, excluído o Brasil, tiveram um desempenho melhor do que o do resto do mundo. O fluxo declinou para a Ásia, mas aumentou 11% para a América do Sul. Foi forte o volume de investimentos diretos estrangeiros destinados a Chile, Colômbia e Peru, países que vêm mantendo políticas econômicas que estimulam o crescimento e o ingresso de capitais externos. Surpreendentemente, aumentou também o fluxo de investimentos para a Argentina, onde o governo de Cristina Kirchner vem maltratando seguidamente o capital externo.Outro dado curioso do estudo da Unctad é o aumento dos investimentos em dois países europeus em dificuldades, Portugal e Espanha. A Unctad atribui o aumento do fluxo para a Espanha ao programa de capitalização dos bancos com a utilização de recursos de filiais instaladas em outros países. Em Portugal, o aumento se deve aos investimentos chineses, que viram oportunidades na área de energia. A despeito da crise em vários países da União Europeia, o fluxo para todo o bloco teve uma redução "moderada", segundo a Unctad, pois a crise pode ter oferecido oportunidades aos investidores.Cautelosa, a Unctad diz que as projeções de longo prazo são de aumento moderado, mas ressalva: se houver novos choques em 2013, tudo isso mudará.