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Fatos sobre o Butantan

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Por HERNAN CHAIMOVICH e ISAIAS RAW E JOSÉ DA SILVA GUEDES
3 min de leitura

Nos últimos meses o Instituto e a Fundação Butantan têm ocupado espaço na imprensa. Versões distintas sobre entrega e produção de vacinas, bem como a desgraça com o incêndio da coleção de cobras, aranhas e escorpiões, vêm despertando o interesse da sociedade. É normal e apropriado que instituições que prestam serviços há mais de um século sejam objeto de interesse, mas não é salutar nem justo que uma marca reconhecida nacional e internacionalmente seja apresentada somente com tons que a manchem. Neste artigo apresentaremos alguns fatos e seus contrapontos, que, por serem tão verdadeiros quanto os fatos conhecidos, podem contribuir para apresentar uma visão mais equilibrada sobre alguns aspectos do Butantan.É fato que má administração financeira da fundação gerou uma crise em 2009. Deve ser reconhecido, também, que com o apoio do Ministério Público, por meio da Curadoria das Fundações, em poucos meses o sistema de gestão da fundação mudou. A profissionalização da gestão, com a incorporação de um grupo coeso e sintonizado com a missão do Instituto Butantan, permite assegurar que crises como a passada não se devem repetir. Hoje, a relação com os órgãos de controle do poder público é modelar e os procedimentos gerenciais foram totalmente renovados.É fato que a fábrica de vacinas contra influenza não entrou ainda em fase de produção. Deve-se adicionar que a planta piloto de influenza opera desde 2006 e, quando foi necessário, produziu material suficiente para a formulação de 20 mil doses de vacina contra o vírus de gripe mais mortal dos últimos tempos, o H5N1 (gripe aviária). Assim, o Brasil tornou-se um dos poucos países que dominam a tecnologia de manipular esse tipo de vírus e produzir vacinas contra ele.O prédio da fábrica de vacina contra influenza está pronto, todos os equipamentos de produção estão instalados, os testes de produção e descarte foram completados, o pessoal está sendo contratado e treinado e as primeiras doses comerciais de vacina serão produzidas em outubro deste ano. No intervalo entre hoje e outubro, a fábrica deverá ser qualificada. É conveniente, também, lembrar que o Instituto Butantan, entre janeiro e maio de 2010, formulou e envasou cerca de 35 milhões de doses de vacina de influenza (A/H1N1 e sazonal) e permitiu que o Ministério da Saúde do Brasil adquirisse mais 46 milhões de vacinas já formuladas e envasadas.É fato que o novo adjuvante (MPLAp) inventado e produzido no Instituto Butantan não está sendo usado comercialmente. A Anvisa, agência reguladora que se torna crescentemente parceira, e o instituto levaram algum tempo para convergir, permitindo assim a realização de um ensaio clínico modelar para que a eficiência do adjuvante com a vacina de A/H1N1 fosse testada. Os resultados preliminares desse ensaio clínico demonstram que o MPLAp não apresenta nenhum efeito adverso, produz uma resposta imunitária adequada e poderá permitir diminuir a dose de antígeno quatro vezes. Assim, a fábrica projetada para produzir, no máximo, 20 milhões poderá fornecer 80 milhões de doses de vacina tríplice contra influenza por ano.É fato que visitas de inspeção da Anvisa e da Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendaram uma série de mudanças nas fábricas de vacinas de DTP e hepatite. As pendências nas fábricas foram identificadas em inspeções realizadas em junho e em novembro do ano de 2009, sendo consideradas não-críticas e, portanto, não impedindo a produção. As pendências incluíam modernização do sistema de água das linhas de produção da vacina contra hepatite e um dos componentes da vacina tríplice; readequação do fluxo de materiais e pessoas na linha de produção de tétano; readequação do sistema de ar-condicionado da vacina tríplice e modificação no processo de envase de soros hiperimunes, com a consequente mudança da embalagem de ampola para frasco-ampola. Todas essas providências já foram encaminhadas, com a compra de um novo sistema de ar-condicionado, aquisição de um sistema de destilação de água para as duas linhas de produção e elaboração do projeto de reforma e adequação das linhas de produção de vacina tríplice. A instalação dos equipamentos e a reforma física das áreas exigem interrupção temporária de produção, programada para ocorrer entre os meses de novembro de 2010 e fevereiro de 2011. Os investimentos necessários para a realização dessas adequações somam R$ 5 milhões, que estão sendo pagos integralmente com recursos da Fundação Butantan.O Instituto e a Fundação Butantan constituem um conjunto singular onde pesquisa básica, desenvolvimento tecnológico e produção permitem que o Brasil, dentro de políticas nacionais de saúde pública mantidas há décadas, possa fornecer vacinas, soros e outros produtos biológicos na fronteira do conhecimento e no estado da arte dos produtos. Manter esse nível de excelência requer inserção científica internacional continuada e simultânea inovação na produção, acompanhando tendências globais.Não é a nossa intenção apresentar, aqui, um quadro completo das atividades de pesquisa básica, desenvolvimento tecnológico, divulgação e fabricação do conjunto Instituto e Fundação Butantan, pois seria longo demais para este artigo. Somos, desde 1901, parceiros da saúde pública brasileira, criando e estendendo conhecimento, fornecendo produtos a custos compatíveis com os recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) e contribuindo para que o Brasil mantenha uma posição de independência e conhecimento suficiente para continuar sendo ator significativo no panorama global da saúde.RESPECTIVAMENTE, SUPERINTENDENTE-GERAL, PRESIDENTE DO CONSELHO TÉCNICO CIENTÍFICO E PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO BUTANTAN