11 de fevereiro de 2013 | 19h59
Em julho de 2011, Alfredo Nascimento teve de se demitir dos Transportes ao se tornar pública a existência de um esquema de superfaturamento em obras rodoviárias. Em seguida, outros sete funcionários da pasta foram afastados de uma tacada só. Depois de encarniçada resistência, caiu ainda o todo-poderoso diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antonio Pagot. No fim das contas, foram 24 as demissões. Em represália, os 5 senadores e 34 deputados republicanos (vá lá o termo) debandaram da enxundiosa base governista no Congresso. A presidente até que tinha tentado conter o estouro, nomeando para o lugar de Nascimento outro peerrepista, Paulo Passos, secretário executivo do Ministério. Mas a cúpula do partido repeliu o agrado. Primeiro, porque não o havia indicado. Segundo, porque entendia que ele só se filiara ao PR para garantir uma boquinha nos Transportes.
Nascimento foi o segundo ministro defenestrado por Dilma. O primeiro foi Antonio Palocci, da Casa Civil, pelas consultorias milionárias que aprontou nos anos anteriores. Além deles caíram, igualmente acusados de envolvimento em irregularidades: Wagner Rossi, da Agricultura; Pedro Novais, do Turismo (ambos do PMDB); Orlando Silva, do Esporte (PC do B); e Carlos Luppi, do Trabalho (PDT). A "faxina", como a sequência de demissões ficou conhecida, premiou a presidente com invejáveis índices de popularidade. Agora, como os pais dizem às crianças insistentes, acabou. Não a aprovação, regada pelos números do emprego e renda. Mas o alardeado compromisso de Dilma com a ética no governo. Se esse fosse o seu norte, não abriria o Planalto a Nascimento para passarem, sorrindo de lado a lado, uma esponja no passado que o condenou.
Os tempos, porém, são outros. A economia do pibinho e o crescimento do PSB do governador pernambucano Eduardo Campos, alimentando os seus projetos presidenciais, mexem com a sempre volúvel lealdade da base parlamentar aliada. Evidentemente orientada pelo patrono Luiz Inácio Lula da Silva - cujo acendrado pragmatismo e amnésia seletiva mereciam figurar no Livro Guinness de Recordes -, Dilma mandou às favas os presumíveis escrúpulos de consciência e deu um abraço "republicano" em Nascimento e corriola. Sem falar na sucessão de 2014, nestes tempos bicudos, com o PMDB no comando da Câmara e do Senado, e impando de vontade de mostrar ao Planalto quem é quem, 39 votos a mais no Congresso não são de jogar fora. Valem a restituição dos Transportes aos que, antes do surto faxineiro da presidente, agiam como seus donos.
É como disse o sabido Garotinho, antes do encontro de reconciliação com Dilma. "A gente só quer uma definição: se é governo ou se é oposição. Somos políticos. O PT tem ministério. O PMDB tem ministério." O nome para o PR é o do senador mato-grossense Blairo Maggi, o rei da soja, que nos últimos dias esteve duas vezes com Dilma, além de se avistar com Lula. Acontece que, se política fosse uma coisa simples, qualquer um fazia. Maggi é do PR, ma non troppo, resmungam os correligionários. Uma alternativa seria dar a Maggi a Agricultura. Mas, então, Dilma teria de recompensar o PMDB, que detém a pasta na pessoa do deputado gaúcho Mendes Ribeiro - e quer outras. Lula, mais versado nesse gênero de negócio, decerto mostrará a Dilma o caminho das pedras que conduz a 2014.
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