29 de fevereiro de 2012 | 03h09
Com todas as cautelas que os vaticínios eleitorais recomendam, parece óbvio que o nome de Serra se colocava como o único, entre os disponíveis nas forças de oposição ao poder central, capaz de disputar o pleito municipal contra Lula - o verdadeiro candidato por detrás do nome que o próprio chefão do PT escolheu a dedo para representá-lo. E isso leva à curiosa conclusão de que, ao final de contas, Lula acabou escalando os dois candidatos que deverão polarizar o pleito de outubro.
Está claro, portanto, que a eleição do prefeito de São Paulo está "federalizada", no sentido de que colocará em jogo muito mais do que o comando político-administrativo da maior metrópole brasileira. Para Lula e seu partido, é ponto de honra vencer as eleições na capital paulista e, a partir daí, conquistar em 2014 o governo do Estado, que estará completando 20 anos nas mãos de seu maior adversário - o PSDB. Não é por outra razão que, do alto de seu incontrastável poder dentro do PT, Lula atropelou todas as lideranças do partido em São Paulo para impor sua escolha pessoal: a candidatura de Fernando Haddad, que, com seu apoio, o ex-presidente considera capaz de superar a rejeição que historicamente a classe média paulistana demonstra em relação à legenda petista.
Tão determinado está o lulopetismo a fazer o que for necessário para vencer o pleito em São Paulo, que as lideranças mais identificadas com Lula não hesitaram um segundo em abrir os braços à possibilidade de aliança com um adversário figadal, o prefeito Gilberto Kassab. A entrada de Serra na disputa poupou os petistas, e o próprio Kassab, da espinhosa missão de justificar uma esperteza inadmissível para quem faz política com um mínimo de coerência. Estão aí a senadora Marta Suplicy e seu pesadelo de "acordar de mãos dadas" com o prefeito a demonstrar que tudo tem limite. Mas essa é uma lição que deve ter sido muito mais útil para o eleitor que, se parou um segundo para pensar, só pode ter concluído que sua capacidade de discernimento estava sendo indecorosamente subestimada.
Daqui para a frente, restará aos tucanos e seus aliados jogar o jogo eleitoral paulistano no campo em que Lula o colocou: a temática nacional. E para isso será necessário, fugindo ao tom das três campanhas presidenciais em que foram derrotados, colocar muito claramente as divergências com o modo lulopetista de governar. São nove anos de uma experiência extremamente vulnerável que, por um lado, corrompe o aparelho do Estado em nome da governabilidade, e, por outro, provoca um crescente déficit de capacidade gerencial que compromete os benefícios sociais de que Lula e seus companheiros se proclamam curadores exclusivos.
De qualquer modo, é importante que, apesar do rumo político que a campanha eleitoral inevitavelmente tomará, candidatos e partidos não se esqueçam de que esta é a maior metrópole do País, com mais de 10 milhões de habitantes e problemas à altura de seu gigantismo. A população paulistana, portanto, merece e exige de seu futuro prefeito propostas concretas voltadas para a solução dos graves problemas que enfrenta em todas as áreas, da social à de infraestrutura.
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