21 de março de 2012 | 03h07
Esses números proporcionam mais uma clara confirmação de um problema detectado há bem mais de um ano - o descompasso entre a demanda de consumo, fortalecida pelo crédito e pelo aumento da massa de salários, e a oferta interna de bens industriais. A diferença tem sido coberta pela produção estrangeira, realizada em condições muito mais favoráveis que as da indústria brasileira.
Também o coeficiente de exportação, isto é, a relação entre o valor exportado e o produzido no País, aumentou dois pontos porcentuais em 2011, chegando a 19,8% - variação igual à do coeficiente da importação no mercado interno. Mas a proporção entre as vendas externas e a produção continuou bem inferior à registrada em 2004, quando chegou ao recorde de 22,9%.
Em outras palavras: em sete anos a indústria brasileira perdeu poder de competição tanto fora do País quanto no mercado interno. Novamente, o quadro é bem pior quando se deixa de lado o setor extrativo e se considera apenas a indústria de transformação. Para este segmento, o coeficiente de exportação de 2011 ficou em 15%, apenas 1,1 ponto acima do registrado no ano anterior e 6,6 pontos abaixo do nível observado em 2004.
Não só produtos acabados, no entanto, têm entrado em volumes crescentes no mercado brasileiro. Também tem crescido o volume de insumos importados, isto é, de matérias-primas e bens intermediários destinados à fabricação de bens finais. O coeficiente de insumos importados aumentou 2,6 pontos porcentuais e chegou a 21,7% em 2011, segundo a CNI. Houve aumento de 0,4 ponto em relação ao nível de 2008, o recorde anterior.
O uso de componentes importados é normal em todo o mundo. É uma das características da nova divisão do trabalho. Bens industriais são produzidos num país com insumos igualmente industriais fabricados em outros países. Componentes eletrônicos, autopeças, produtos químicos e partes para aviões aparecem nas grandes cadeias internacionais de produção. A indústria globalizou-se e isso eleva a eficiência e reduz os custos.
Mas essa tendência, observada em todo o mundo industrializado, explica apenas parcialmente o aumento da importação de insumos pelas empresas brasileiras, tanto de capital nacional quanto de capital estrangeiro. Tudo seria perfeitamente saudável, em termos econômicos, se a importação de matérias-primas e componentes refletisse apenas as vantagens comparativas normais da produção em cada país. Não é isso que acontece aqui.
Indústrias brasileiras de vários setores seriam bem mais competitivas, se o ambiente de negócios e as políticas públicas fossem menos desfavoráveis. Isso inclui a segurança jurídica, o custo da burocracia (o tempo necessário para uma licença, por exemplo), a oferta de mão de obra em condições pelo menos de ser treinada, as condições da infraestrutura, a natureza da tributação e assim por diante.
O custo e a disponibilidade de crédito são também muito importantes, mas esse e outros fatores dependem, como já se mostrou inúmeras vezes, da qualidade das finanças públicas. A valorização do real é apenas mais um fator de encarecimento dos produtos brasileiros. Se o real se depreciar, os outros fatores, muito mais enraizados, permanecerão.
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