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Fracasso em acordos

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Por Redação
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O governo do presidente Lula chega ao fim sem haver concluído um só acordo de livre comércio com um grande parceiro. O governo tem procurado apropriar-se do sucesso comercial do Brasil nos últimos oito anos, mas esse é apenas mais um caso de apropriação indébita. A expansão do comércio exterior nesse período resultou principalmente da combinação de três fatores estranhos à diplomacia petista. O primeiro foi o empenho do empresariado brasileiro em aumentar sua participação no mercado internacional. Esse esforço, iniciado nos anos 90, com a abertura econômica do País, ganhou impulso depois da reforma cambial de 1999. O segundo foi a expansão do comércio global, favorecida por novos esquemas de produção e por uma longa fase de prosperidade. O terceiro foi a intensa demanda de matérias-primas, alimentada pelo crescimento da China e de outros emergentes. Quanto à diversificação de parceiros, foi a continuação de uma velha tendência: há muito o Brasil é classificado como um exportador global, ao contrário do México, muito vinculado a um grande comprador. O número de mercados para produtos brasileiros aumentou, mas nos anos 80 as vendas já eram destinadas a compradores de todos os continentes. O terceiro-mundismo do Itamaraty em nada contribuiu para favorecer o Brasil no mercado mundial. Ao contrário: atrapalhou, e muito, assim como a voracidade fiscal e a incompetência do governo em investir na infraestrutura.Um balanço publicado neste domingo no Estado mostra as limitações dos pactos comerciais concluídos pelo governo federal a partir de 2003 e já postos em vigor. O acordo de livre comércio com Israel é positivo, naturalmente, mas pouco afeta as contas externas do País. O mercado israelense absorveu em 2009 apenas 0,18% das exportações brasileiras. As preferências negociadas com a Índia valem para 450 produtos e só favorecem 0,2% das vendas do Brasil. As preferências acertadas com a União Aduaneira da África Austral ainda não foram aprovadas pelo Congresso brasileiro.Muitas negociações foram iniciadas com economias em desenvolvimento e todas têm alguma importância, mas nenhum acordo de grande alcance foi concluído com os mercados mais importantes. Enquanto isso, concorrentes do Brasil firmaram acordos com a União Europeia e com os Estados Unidos ou simplesmente ocuparam espaços ? como a China ? graças ao seu poder excepcional de competição. Os exportadores chineses tomaram mercados de brasileiros não só no mundo desenvolvido, mas também na América Latina, onde os acordos comerciais e os equívocos diplomáticos deixam em desvantagem os exportadores nacionais. Nos acordos do Mercosul com parceiros sul-americanos, a abertura de mercados para o Brasil só se completará em 2014, 2018 ou 2019. Ao mesmo tempo, a ilusão de liderança regional estimula o governo a aceitar o protecionismo contra os produtores brasileiros. As prioridades oficiais não são diferentes dos objetivos dos empresários, disse o coordenador do Departamento de Negociações Internacionais do Itamaraty, embaixador Evandro Didonet, citado na reportagem. "O Brasil sempre demonstrou interesse em negociar com Europa ou Estados Unidos", afirmou o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral. Os fatos desmentem. As negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) foram enterradas por iniciativa do Brasil. Os negociadores americanos só criaram obstáculos quando os brasileiros, secundados por argentinos, já haviam feito grandes esforços para impedir qualquer acordo. O presidente Lula vangloriou-se diante de sindicalistas de haver "tirado a Alca da pauta".Foi uma das muitas tolices cometidas por um presidente despreparado para esse assunto e aconselhado por fracos assessores. Nas negociações com a União Europeia, iniciadas há mais de dez anos, o governo brasileiro cedeu ao protecionismo dos sócios argentinos. Na Rodada Doha, foi abandonado pelos "parceiros estratégicos", como Índia e China. Que mais seria preciso para demonstrar o fracasso da diplomacia comercial petista?