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Freios suaves na economia

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Por Redação
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Os freios aplicados à economia brasileira estão funcionando muito suavemente, a julgar pelos últimos indicadores de produção, consumo e emprego divulgados pelas entidades empresariais e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O comércio varejista vendeu em abril 0,4% menos que em março, descontados os fatores sazonais. O emprego industrial diminuiu 0,1%, isto é, permaneceu praticamente estável, como no mês anterior, quando a variação foi nula. Os dois levantamentos foram divulgados na sexta-feira pelo IBGE e combinam muito bem com o panorama apresentado na mesma semana pela Confederação Nacional da Indústria (CNI): aumento de 1,5% nas horas de trabalho, manutenção da massa de salários e ligeira diminuição do uso da capacidade instalada - de 82,4% para 82%, um nível ainda elevado por qualquer padrão. Mas os dados mais interessantes para se avaliar a desaceleração dos negócios são os números acumulados tanto neste ano quanto em 12 meses. Por esses dados é mais fácil perceber o vigor da demanda remanescente depois dos aumentos de juros e das medidas de restrição ao crédito impostas até o fim de abril.Nos primeiros quatro meses do ano o comércio varejista vendeu 7,6% mais do que um ano antes, em volume, e faturou 12,6% mais, descontada a inflação. Em 12 meses, o volume vendido foi 9,5% maior que o do período anterior, e o faturamento real, 13,7% mais alto. A pequena contração do volume, entre março e abril, foi a primeira depois de 11 meses de crescimento.O bom desempenho do comércio - com volume de vendas, no mês, 10% superior ao de abril do ano passado - é explicável em boa parte pelo emprego elevado, pelo aumento de renda acumulado num longo período pelos consumidores e pelo crédito ainda em expansão, apesar dos limites mais severos determinados pelo Banco Central (BC). Em abril, o desemprego apurado pelo IBGE, nas seis áreas metropolitanas cobertas pela pesquisa, ficou em 6,4%, a menor taxa para o mês desde a reformulação do procedimento, em 2002. A massa do rendimento médio real dos trabalhadores foi 1,7% menor que a de março - um evidente efeito da inflação -, mas foi 4,3% maior que a de um ano antes. Os dados do emprego na indústria, publicados nessa semana, confirmam um quadro geral ainda compatível com uma demanda vigorosa. Entre janeiro e abril o pessoal ocupado foi 2,4% mais numeroso do que um ano antes. Em 12 meses, a diferença acumulada chegou a 3,7%. Nos primeiros quatro meses a indústria pagou 6,1% mais do que no período de janeiro a abril do ano passado. A comparação entre períodos de 12 meses mostra um aumento de 7,5% na folha de salários. Ainda há emprego e poder de consumo consideráveis, apesar dos juros mais altos e de alguns efeitos do endividamento. A inadimplência já aumenta e o consumidor começa a agir com um pouco mais de cautela. A lenta desaceleração também se reflete nos dados de inflação. Nos 12 meses terminados em maio, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou uma alta de 6,55%, pouco acima do número registrado até o mês anterior, 6,51%. Esse indicador, usado como referência para a política de metas de inflação, permaneceu no mês passado, portanto, pouco acima do teto fixado para o resultado anual, 6,5%, e longe do centro do alvo, 4.5%. A taxa mensal deverá continuar em queda neste mês e talvez no próximo. Mas a acumulada em 12 meses ainda será alta em agosto, quando começarão as negociações salariais de categorias poderosas. As autoridades monetárias abandonaram há tempos a pretensão de conduzir a inflação ao centro da meta neste ano. Prometem esse resultado para o fim de 2012. A estratégia é razoável, mas só dará resultado se o BC estiver pronto para reagir a qualquer novo choque de preços e, sobretudo, se for capaz de atenuar os efeitos da indexação.Vários preços ainda são indexados e o País continua sujeito, portanto, aos efeitos da inércia inflacionária. Esses efeitos são reforçados quando há condições para o desenvolvimento da espiral preços-salários-preços. É importante avaliar se os freios suaves serão suficientes para o ajuste.