05 de janeiro de 2013 | 14h42
Nesse quadro, José Genoino é apenas um coadjuvante para o qual se apontam circunstancialmente os holofotes. Um coadjuvante a quem, com alguma indulgência, se pode atribuir o papel de vítima. Uma vítima cujos algozes não são, como querem os petistas, as elites perversas, o judiciário politizado, a mídia monopolista e vendida - enfim, tudo e todos que se recusam a alinhar-se com os planos de poder do partido dito dos trabalhadores. Genoino é, isso sim, vítima das enormes contradições do PT, da falta de escrúpulos com que a liderança da companheirada reescreveu a história de um partido que nasceu com o compromisso de passar o Brasil a limpo.
Não tem faltado quem, indignado com o absurdo ético que representa seu retorno à condição de deputado, não hesite em classificar Genoino como "bandido". Não é justo. Bandidos há muitos na política brasileira em geral e dentro do PT em particular. Especialmente aqueles que ingressaram na vida pública arrostando o perigo de desafiar a ditadura militar e que hoje se refestelam no luxo dos confortos "burgueses" imbuídos da convicção de que fizeram por merecê-lo por serem "do bem". Não é o caso de José Genoino, no que diz respeito ao padrão de vida de classe média que sua família sempre teve. Mas Genoino erra. E da mesma forma como cometeu no passado o erro político de optar pela luta armada para defender a democracia, hoje Genoino erra ao não admitir os crimes em que se viu envolvido e pelos quais foi condenado. Se agisse hoje com a mesma coragem, desassombro e generosidade que há mais de 40 anos o levaram a arriscar a vida no movimento de resistência à ditadura militar, admitiria seus erros no episódio do mensalão, sem precisar quebrar o vínculo de fidelidade a seus companheiros, e teria poupado o País e a si mesmo da cena patética que protagonizou ao trocar o fundamento sólido e permanente da ética pelo oportunismo efêmero da legalidade.
"Estou cumprindo as regras, a Constituição e as normas do País. Fui eleito com 92.326 votos e estou no dever legal, correto e justo de cumprir a Constituição brasileira." Se é de fato o homem probo envolvido em malfeitos por força das circunstâncias, como muitos brasileiros acreditam, José Genoino certamente um dia se arrependerá do cinismo dessa declaração. Pois ninguém contesta o direito que, à luz do ordenamento jurídico brasileiro, ele tem de assumir uma vaga de suplente na Câmara dos Deputados. Mas nem tudo que é legal e legítimo, é moral e ético.
José Genoino conquistou no passado o respeito até dos brasileiros que dele discordavam porque lutou por aquilo em que acreditava. Hoje procura apenas se agarrar ao que lhe convém. É pena.
Encontrou algum erro? Entre em contato