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Guerra à inflação tem de seguir

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Por Redação
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Vai doer muito, ainda, o combate à inflação – uma previsão muito fácil depois dos 5,34% de janeiro a maio e dos 8,47% acumulados em 12 meses, quase o dobro da meta. Juros altos e arrocho do crédito são as armas disponíveis neste momento, e o Banco Central (BC) terá de usá-las para levar a alta de preços a 4,5%, o alvo oficial, no fim do próximo ano. A promessa de alcançar esse resultado em 2016 foi reiterada pelo Copom, o Comitê de Política Monetária do BC, na ata de sua última reunião. Nela foi decidida a elevação da taxa básica de juros, a Selic, para 13,75%. No mercado financeiro já se previa, antes da ata, uma taxa de 14% ainda este ano, com uma inflação de 8,46% acumulada até dezembro. A esperança de chegar aos 4,5% no próximo ano é o detalhe mais otimista da ata, mas indica, também, a disposição de manter a política de aperto, mesmo num ambiente de retração econômica e desemprego em alta. “A política monetária deve manter-se vigilante”, afirmam os autores do texto, repetindo uma fórmula usada mais de uma vez nos últimos meses. Mas a promessa de empenho é reforçada, neste novo documento, com uma referência a “determinação e perseverança”, necessárias para limitar os efeitos inflacionários de dois processos de ajustes – o dos preços internos em relação aos internacionais e o dos preços administrados em relação aos livres. O primeiro reflete a valorização do dólar. O segundo, a necessária correção de preços politicamente represados, como os da energia elétrica e dos combustíveis. Para as tarifas de eletricidade menciona-se a previsão de alta de 41% neste ano. O risco de contágio dos demais preços tem sido citado, nas atas, desde o início do realinhamento dos preços administrados e monitorados. Pode haver correção ou mudança de preços relativos sem efeitos inflacionários, se os repasses forem limitados. Por isso o Copom tem afirmado e reafirmado, em cada reunião, o compromisso de conter os “efeitos de segunda ordem” desses aumentos, para “circunscrevê-los a 2015”. Por enquanto, os esforços para conter o contágio desses e de outros aumentos têm sido pouco eficientes. As pressões inflacionárias estão muito espalhadas e seus efeitos se manifestam em todos os segmentos do mercado, como confirma o índice de difusão – uma forma de medir a proporção dos preços com aumentos. De abril para maio esse índice pouco recuou, passando de 72,1% para 70,4%, de acordo com cálculo da Votorantim Corretora citado pelo Broadcast, serviço online da Agência Estado. Ainda subiram, portanto, bem mais de dois terços dos preços. Confirma-se mais uma vez, assim, o equívoco de atribuir a inflação a este ou àquele item. O impulso pode começar com qualquer preço e só se converte em processo inflacionário se houver, no mercado, condições propícias ao contágio dos demais valores. Algumas dessas condições têm mudado, mas o ambiente, apesar do desemprego em alta, da corrosão do poder de compra de grande parte das famílias e da menor expansão do crédito, continua favorável ao repasse de custos e à propagação dos aumentos. Mesmo com a piora do mercado de trabalho, permanece, de acordo com a avaliação do Copom, “risco significativo” de concessão de aumentos salariais superiores aos ganhos de produtividade. A “dinâmica salarial”, segundo a ata, “permanece originando pressões inflacionárias de custos”. O desequilíbrio das contas públicas, um fator inflacionário de enorme importância, também está longe de ser corrigido, porque o ajuste apenas começou. As contas públicas, segundo o Copom, devem evoluir para uma condição menos nociva à estabilidade de preços – mas essa, por enquanto, é apenas uma bela perspectiva. Relaxar o combate à inflação neste momento seria o maior dos erros. O esforço realizado até agora seria desperdiçado, a insegurança continuaria, os negócios permaneceriam fracos e o empresariado se manteria longe dos riscos. Só resta avançar, tanto no combate direto à inflação quanto no conserto, ainda recém-começado, das estropiadas contas públicas.