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Hora de rever planos de saúde

Entre as várias razões que explicam o elevado custo dos planos no Brasil, um especialista na questão aponta três que merecem especial atenção

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Por Redação
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A grave crise por que passa o País deixou mais evidentes os problemas enfrentados tanto pelos clientes como pelas empresas operadoras de planos de saúde, que não são de hoje e demonstram que o setor de saúde privada precisa ser repensado, e com urgência. Essa é uma questão que interessa a muita gente e por isso exige pronta resposta de todos os que nela têm uma parcela de responsabilidade. Cerca de um quarto da população é hoje atendido pelos planos, que a eles aderiu para fugir das notórias deficiências do Sistema Único de Saúde (SUS).

Em pouco mais de um ano, os planos perderam 1,78 milhão de clientes, passando de 50,13 milhões em maio de 2015 para 48,35 milhões em junho deste ano, com um impacto facilmente imaginável na economia das operadoras. Isso é reflexo do desemprego, que já atingiu a marca de 12 milhões, pois aquela redução do número de clientes refere-se principalmente aos que foram demitidos por empresas que ofereciam planos de saúde coletivos a seus empregados.

A grande maioria dessas pessoas não pode evidentemente passar a pagar planos individuais, muito mais caros. Só com a reativação da economia, que não produz efeitos da noite para o dia, ela poderá voltar à situação anterior. Enquanto isso, será obrigada a recorrer ao precário e sobrecarregado SUS, em cuja ampliação e melhora sucessivos governos, com destaque para os do PT, não investiram o que deveriam. Preferiram apostar na ampliação da saúde privada como se com isso pudessem atingir dois objetivos: demonstrar que a “nova classe média” podia ter acesso aos sonhados planos e, ao mesmo tempo, aliviar os gastos com o SUS. Erraram nos dois casos: o caminho para os planos é mais acidentado do que lhes parecia e o SUS foi sucateado.

Não são apenas os acidentes da economia – no caso da crise atual, um desastre monumental – que não recomendam considerar a saúde privada capaz de absorver os vários segmentos da classe média. Os custos dos planos, já antes da crise, mostravam que a sua tendência é se tornarem mais restritos às camadas de melhor renda. Reportagem do jornal Valor mostra, com base em pesquisa da empresa de consultoria Willis Towers Watson, que no Brasil o reajuste médio dos planos corporativos, oferecidos por empresas a seus empregados, que representam 65% do mercado de saúde privada, é o dobro da média mundial.

E isso vem ocorrendo ao menos desde 2014, quando aquele reajuste foi de 14,1% no Brasil para 7,5% no mundo e 4,9% nos Estados Unidos, país onde a saúde privada tem papel importante. Em 2015, aqueles números foram 15,7% para o Brasil, 8% para o mundo e 4,1% para os Estados Unidos. Para este ano as estimativas são, respectivamente, de 18%, 9,1% e 5%.

Entre as várias razões que explicam o elevado custo dos planos no Brasil, um especialista na questão daquela consultoria, César Lopes, aponta três que merecem especial atenção. Uma é o fato de aqui as empregadoras assumirem praticamente toda a responsabilidade pelos planos. Isso leva seus empregados a não desenvolverem uma cultura de uso responsável do benefício, consultando médicos com grande frequência: “É muito comum a pessoa repetir consultas e exames”.

Outra é que, ao contrário dos Estados Unidos, aqui os planos não têm franquia. Quando ela existe, o cliente paga pelos procedimentos até uma determinada quantia e, por isso, ele os limita ao que é realmente indispensável. A ANS já estuda a adoção de algo semelhante aqui. Finalmente, a inclusão constante e obrigatória nos planos de novos procedimentos, resultantes de modernas e caras tecnologias, eleva seus custos e força reajustes elevados. Nesse caso específico, são inteiramente procedentes os argumentos das operadoras para explicar os altos preços dos planos.

Já está mais do que na hora de os planos de saúde serem reavaliados, à luz de questões como essas, para garantir seu equilíbrio e o bom atendimento que deve a quase 50 milhões de brasileiros.