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Ilusão estatística atenua o desemprego

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Por Redação
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Em fevereiro, segundo a Pesquisa Mensal do Emprego (PME) do IBGE, o índice de desocupação aumentou 0,3 ponto porcentual sobre janeiro, passando de 8,2% para 8,5% da população ativa das seis maiores regiões metropolitanas, mas foi menor que o de fevereiro de 2008 (8,7%) e os dados foram vistos como "menos ruins" do que o esperado. Mas, de fato, houve uma ilusão estatística: menos pessoas procuraram emprego no mês passado. Isso é mais importante do que os números absolutos, que permitiram mascarar os dados. O recuo bastou para mostrar que "o mercado de trabalho não está absorvendo" trabalhadores e "o cenário econômico não é favorável", disse o gerente do IBGE Cimar Azeredo. Entre janeiro e fevereiro, 211 mil vagas foram fechadas nas seis capitais pesquisadas, segundo o IBGE, afetando muito a indústria. A renda média do pessoal caiu 0,1%, de R$ 1.323,17 para R$ 1.321,30, e o rendimento médio real domiciliar por habitante caiu mais (1%). Em São Paulo, o índice de desocupação atingiu 10%, inferior apenas ao de Salvador (11%). O rendimento médio domiciliar na capital paulista caiu 2,6%, de R$ 981,46 para R$ 956,19 - ou R$ 25 a menos. Na indústria, a renda caiu 10%. Proporcionalmente, a queda foi ainda maior no Recife (3,5%), com redução de quase R$ 18 no rendimento mensal. Segundo a Fundação Seade, na região metropolitana de São Paulo o nível de ocupação caiu 2% entre janeiro e fevereiro de 2009 - o que corresponde à redução de 179 mil postos de trabalho. Porcentualmente, a queda teria sido muito maior se 87 mil pessoas não tivessem desistido de procurar emprego. Por ora, os números de fevereiro de 2009 ainda são melhores do que os de fevereiro de 2008. Mas, salvo uma reação forte - e inesperada - do mercado de trabalho, a tendência é de piora na comparação anual, perdendo-se, aos poucos, o que havia sido ganho em 2008, ano de forte aumento do PIB. Menos emprego com carteira assinada e menos rendimento repercutem desfavoravelmente na Previdência Social (o déficit do INSS, em fevereiro, foi 20,1% superior ao de fevereiro de 2008), na demanda de crédito nos bancos, que cresce mais devagar, e na inadimplência, que está se agravando. Isso mostra a importância de que programas oficiais de impacto, como o pacote habitacional, lançado na quarta-feira, sejam eficientes e não meramente eleitoreiros, propiciando, de fato, a geração de empregos.