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Opinião|Impeachment não é solução

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Muitos leitores, aturdidos com a extensão do lodaçal que se vislumbra em cada novo capítulo da Operação Lava Jato, manifestam profundo desalento e o crescente desejo de que a presidente da República deixe o cargo. Sem ela, pensam com certo toque de ingenuidade, o Brasil seria outro. Entendo o sentimento. Impõe-se, no entanto, um olhar de racionalidade. Dilma Rousseff é uma peça pequena da engrenagem controlada pelo ex-presidente Lula. Ele, sim, é o grande responsável pela crise econômica, política e moral que assola o País e sequestra a esperança de milhões de brasileiros.

O impedimento é um processo extremo, traumático, imprevisível. E o pós-impeachment só beneficia um lado: Lula e o PT. Passam de vidraça a estilingue. Numa boa. O sucessor de Dilma vai receber um baita abacaxi. Passará todo o mandato lutando contra os efeitos da incompetência de Dilma Rousseff. Será fustigado pelo lulopetismo. Finalmente, em 2018, se conseguir escapar da magnífica varredura do juiz Sérgio Moro, Lula, com cara limpa e banho tomado, se apresentará como salvador da Pátria. É isso o que você quer, amigo leitor? É isso que pretendem os organizadores da passeata do dia 16?

Dilma Rousseff, com sua incompetência, despreparo e arrogância, fez o estrago. Pois bem, ela que se encarregue de segurar o rojão. Dilma está tentando. O ajuste fiscal é incontornável. E o que faz a oposição? Vota contra. É uma vergonha! O Congresso Nacional - não o de Renan Calheiros e Eduardo Cunha (que serão oportunamente enquadrados pela Justiça) - tem importante papel de contraponto aos excessos do Executivo. Uma presidente limitada é uma coisa. Outra, bem diferente, é a cassação do seu mandato. Não pagará a conta e cairá como vítima. É isso o que você quer, amigo leitor? É isso que pretendem os organizadores da passeata do dia 16?

O Brasil não vai encontrar seu eixo com o impeachment de Dilma. O que realmente importa é apoiar a grande virada que começou com o mensalão e avança com a Operação Lava Jato. O que você, leitor, pode fazer para contribuir para a urgente e necessária ruptura do sistema de privatização do dinheiro público que se enraizou nas entranhas da República?

Em primeiro lugar, pressionar as autoridades. O Supremo Tribunal Federal (STF), por exemplo, deve sentir o clamor das ruas. Julgar os políticos envolvidos no petrolão não é uma questão de filigranas processuais. É um dever indeclinável. A Corte Suprema pode dar o primeiro passo para a grande virada. Se políticos e governantes responsáveis pela instalação de uma rede criminosa no coração do Estado brasileiro pagarem por seus crimes, sem privilégios e imunidades, o País mudará de patamar.

Não podemos mais tolerar que o Brasil seja um país que discrimina os seus cidadãos. Pobre vai para a cadeia. Poderoso não só não é punido, como invoca presunção de inocência, submerge estrategicamente, cai no esquecimento e volta para roubar mais. Registro o memorável discurso do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo: “Perplexos, percebemos, na simples comparação entre o discurso oficial e as notícias jornalísticas, que o Brasil se tornou um país do faz de conta”. E prosseguia, referindo-se ao mensalão: “Faz de conta que não se produziu o maior dos escândalos nacionais, que os culpados nada sabiam - o que lhes daria uma carta de alforria prévia para continuar agindo como se nada de mau tivessem feito”. De lá para cá, infelizmente, a coisa só piorou. O mensalão desembocou no petrolão.

Roubaram muito mais e adotaram um cinismo pornográfico. A ausência de punição é a mola da criminalidade. Por isso, devemos apoiar o juiz Sérgio Moro e os homens de bem que, com trabalho sério e sem pirotecnias, constroem um novo Brasil. Mas não atiremos a esmo. Não publiquemos no domingo para, na segunda-feira, mudar de pauta. Vamos focar. E você, amigo leitor, pressione, proteste, saia às ruas numa magnífica balada da cidadania.

Em segundo lugar, exija de nós, jornalistas, a perseverança de buldogues. É preciso morder e não soltar. Os meios de comunicação existem para incomodar. Resgato hoje, neste espaço opinativo, uma sugestão editorial que venho defendendo há anos. Vamos inaugurar o Placar da Corrupção. Mensalmente, por exemplo, a imprensa exporia um quadro claro e didático, talvez um bom infográfico, dos principais escândalos. O que aconteceu com os protagonistas da delinquência? Como vivem os bandidos do colarinho-branco? Que lugares frequentam? Que patrimônio ostentam? É fundamental um mapeamento constante. Caso contrário, estoura o escândalo, o político cai, perde poder, mas vai para casa com a dinheirama. Depois, de mansinho, volta ao partido e retorna às benesses do poder, apoiado pela força da grana e do marketing. É preciso acabar com isso. A imprensa precisa ficar no calcanhar dos criminosos.

Uma democracia se constrói na adversidade. O Brasil, felizmente, ainda conta com um Ministério Público atuante, uma Polícia Federal republicana, um Judiciário, não obstante decepções pontuais, bastante razoável e uma imprensa que não se dobra às pressões do poder. É preciso, no entanto, que a sociedade, sobretudo a classe média, mais informada e educada, assuma o seu papel no combate à corrupção. As massas miseráveis, reféns do populismo interesseiro, da desinformação e da insensibilidade de certa elite, só serão acordadas se a classe média - e a classe emergente -, fiel da balança de qualquer democracia, decidir dar um basta à vilania que tomou conta do núcleo do poder.

Chegou a hora de a sociedade civil mostrar sua cara e sua força. O Brasil pode sair deste pântano para um patamar civilizado. Mas, para que isso aconteça, com a urgência que se impõe, é preciso que os culpados sejam punidos.

CARLOS ALBERTO DI FRANCO É JORNALISTA E-MAIL: DIFRANCO@IICS.ORG.BR

Opinião por Carlos Alberto Di Franco

Jornalista