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Importação de combustíveis

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Por Redação
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Mais uma vez a população está constatando que, por falta de coordenação das ações do governo, não passam de promessa os anúncios oficiais de que o etanol estaria sempre disponível, a preço competitivo, para tornar o País um exemplo mundial na área ambiental, pelo maior uso de um combustível renovável e menos poluente. Por causa da alta do preço do álcool nos postos, os proprietários de veículos bicombustíveis passaram a utilizar quase exclusivamente a gasolina, cujo preço a Petrobrás procura manter, apesar da alta do petróleo. Sem capacidade para produzir toda a gasolina que está sendo consumida internamente, a Petrobrás passou a importar derivados de petróleo em quantidades crescentes. Já há estimativas de que, neste ano, a balança comercial desses derivados registrará saldo negativo de US$ 18 bilhões, bem maior do que o de 2010, quando alcançou US$ 13 bilhões, como mostrou o Estado domingo passado, em reportagem de Raquel Landim. O mercado de etanol é influenciado pelo de açúcar. Ambos são determinados pela safra de cana, da qual são obtidos. Com a alta do preço internacional do açúcar, usinas que podem produzir tanto açúcar como álcool optaram, como é natural nas empresas privadas, pelo produto que lhes proporcionaria maior lucro. A combinação da opção dos usineiros pela produção de açúcar com a entressafra de cana levou à redução da oferta do etanol e à alta de seu preço. Estima-se que, para ser competitivo, o preço do etanol não pode superar 70% do da gasolina. Se a gasolina vendida no País tivesse incorporado a alta da cotação internacional do petróleo, é possível que, mesmo tendo ficado mais caro (só neste ano, aumentou cerca de 30%), o álcool continuasse competitivo. Mas, para evitar fortes pressões sobre a inflação, que já causa intranquilidade, o governo não tem permitido que a Petrobrás aumente a gasolina. Nesse segmento do mercado, a empresa vem operando com prejuízo. Lembre-se que o governo, para reduzir o impacto da crise global sobre a atividade econômica, ofereceu incentivos fiscais na compra de automóveis flex, que utilizam indistintamente álcool e gasolina. Graças a esse estímulo, em 2009 foram licenciados 3,14 milhões de veículos e, em 2010, 3,52 milhões, o que elevou a frota do País para 32,5 milhões de unidades. O governo, porém, não tratou de coordenar suas ações. De um lado, estimulou o consumo e, de outro, não procurou assegurar o fornecimento adequado do produto. Enquanto o consumo de gasolina no ano passado cresceu 17,4%, a produção cresceu apenas 8,8%. Só quando começarem a entrar em regime de produção as quatro refinarias em construção pela Petrobrás, o que deve ocorrer em 2013, o aumento da produção poderá acompanhar o da demanda. Também no caso do álcool o consumo cresceu mais do que a produção. Mesmo assim, o governo poderia ter evitado o problema hoje observado no mercado de combustíveis, ou pelo menos diminuído muito seu impacto sobre as escolhas dos proprietários de veículos, se tivesse atuado no sentido de assegurar o abastecimento regular, por meio de estoques reguladores, que contribuiriam também para dar alguma estabilidade aos preços do álcool combustível. No ano passado, foram vendidos nas bombas 15 bilhões de litros de etanol hidratado. Além disso, a adição de álcool anidro à gasolina, na proporção de 25%, exigiu a produção de 22,5 bilhões de litros, além da importação de 139 milhões de litros. Na quinta-feira, o governo reduziu de 20% para 18% a mistura de álcool à gasolina, tanto para conter o preço desse combustível como para moderar o consumo ao álcool. Estima-se que, com um estoque regulador de 5 bilhões de litros de etanol, o mercado seria muito mais estável. Além de estimular o consumo interno de etanol, o governo vem afirmando que o Brasil é o país mais capacitado a exportar o produto em volumes expressivos e de acordo com rigorosas especificações técnicas, de modo a transformá-lo numa commodity negociável amplamente no mercado mundial. Por enquanto, porém, não está sendo capaz nem de assegurar a regularidade do mercado interno de etanol.