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Inadimplência e spread

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Por Redação
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A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) argumenta em sua campanha contra os elevadíssimos spreads bancários - diferença entre o que os bancos cobram dos clientes nos empréstimos e o que pagam aos aplicadores -, que o grau de inadimplência, no País, é apenas ligeiramente superior ao de outros países. Portanto, não há por que os spreads serem tão mais elevados no Brasil.Tanto a crítica da Fiesp como a resposta dos bancos foram reproduzidas em reportagem de Leandro Modé, publicada terça-feira pelo Estado. A Fiesp valeu-se das informações compiladas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), relativas ao último trimestre de 2008 ou a 2007 (no caso da França e da Alemanha). Segundo o FMI, a inadimplência, no Brasil, é de 2,9%, contra 2,7%, na França e na Alemanha; 2,5%, na Argentina, na China, no México e na Rússia; 2,3%, nos Estados Unidos e na Índia; e 1,5%, no Japão. Ou seja, a maior diferença entre os níveis de inadimplência é entre o Brasil e o Japão e não chega a duas vezes.Já o spread médio, no Brasil, de 26,6 pontos porcentuais, é três vezes superior ao da Argentina (8,4%), e quatro vezes superior ao da Rússia (6,5%), Alemanha (6,2%) e França (6%). Com spreads ainda menores surgem o México (5,7%), a Índia (3,8%), a China (3,1%), os EUA (2%) e o Japão (1,3%). Além disso, o spread médio no Brasil é seis vezes superior ao de 42 países analisados pelo FMI, calcula o diretor do Departamento de Tecnologia e Competitividade da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho.A Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban) põe em dúvida as conclusões do levantamento. "Não acho correto colocar os dados dessa forma", afirmou o economista-chefe da entidade, Rubens Sardenberg. "Precisamos ter certeza de estarmos comparando as mesmas coisas." Citando a consultoria Economática, a Febraban explica que a rentabilidade média dos cinco maiores bancos brasileiros equivaleu à média da rentabilidade dos bancos latino-americanos. "Não dá para imaginar que os bancos desses países sejam tão mais eficientes do que os nossos", disse Sardenberg.O Banco Central relaciona vários fatores para explicar os juros e spreads altos, tais como o custo administrativo dos bancos (que pesa 13,6% no spread total), os impostos (18,5%), os recolhimentos compulsórios (3,6%), além do lucro das instituições (26,9%). A inadimplência é o fator de maior peso (37,4%). E é evidente que o resultado final são os juros estratosféricos, cuja queda não acompanhou a da taxa Selic - reduzida de 13,75% ao ano, em setembro de 2008, para 8,75% ao ano."A inadimplência e a insolvência no Brasil estão dentro do padrão mundial e não justificam o juro e o spread que temos aqui", afirma Alberto Borges Matias, professor da USP. Segundo Roriz Coelho, "entre setembro e março, o Brasil pagou em spread R$ 8,5 bilhões a mais do que deveria". Mas os bancos tem-se mostrado resistentes às pressões pela redução do spread - problema incluído há uma década entre as preocupações declaradas do Banco Central. Matias atribui o elevado spread ao baixo volume de crédito. "Como emprestam pouco, os bancos brasileiros têm de ganhar no preço", diz ele. Há excesso de liquidez nos bancos, medida pelo saldo das operações compromissadas de curto prazo com o Banco Central, de R$ 444 bilhões, em meados de julho, segundo o jornal Valor. No Brasil, a relação entre o crédito e o PIB é da ordem de 45%, enquanto nos EUA supera os 180% e na Grã-Bretanha, os 200%. No exterior, emprestando muito a juros baixos, os bancos conseguem oferecer aos acionistas uma boa rentabilidade em relação ao patrimônio. Nos últimos meses, o governo federal decidiu derrubar os spreads mediante uma política de oferta maciça de crédito do Banco do Brasil (BB) e da Caixa Econômica Federal, instituições que controla. Apoiado por ampla campanha publicitária, o presidente do BB, Aldemir Bendine, acaba de prometer novas quedas de juros. Não há dúvida de que os juros (e spreads) têm muito a cair, mas esta política não pode ameaçar a solidez dos bancos públicos.