19 de julho de 2011 | 00h00
A dívida federal americana está batendo no teto de US$ 14,3 trilhões e será preciso chegar muito rapidamente a um acordo para evitar o calote. Qualquer projeto para ampliação do limite só será convertido em lei depois de passar pelas duas Casas do Congresso e o tempo é muito curto. Mas o presidente Barack Obama ainda se mostrava disposto, ontem, a rejeitar a proposta defendida na Câmara pelo grupo republicano. A solução, disse ele em pronunciamento no fim de semana, só será adequada se os sacrifícios forem partilhados por todos.
Será inevitável, segundo ele, mexer em programas socialmente importantes, como o de Assistência Médica, assim como será necessário gastar menos com a defesa. Mas será indispensável, também, completar o ajuste com a cobrança de mais impostos das grandes companhias e dos contribuintes mais endinheirados. Os administradores de fundos de hedge, exemplificou Obama, não deveriam pagar menos impostos que suas secretárias. Nem se deveria continuar concedendo benefícios especiais a empresas de petróleo capazes de lucrar dezenas de bilhões de dólares. A escolha dos dois exemplos foi certamente bem calculada, por causa da baixíssima popularidade das companhias de petróleo e dos executivos financeiros.
Republicanos, no entanto, foram responsáveis pela maior parte das vantagens fiscais concedidas aos milionários e às grandes companhias, desde a gestão do presidente Ronald Reagan. Hoje na oposição, muitos deles continuam defendendo esses privilégios, como se a sua eliminação prejudicasse a economia e fosse danosa a todos os contribuintes. Obama, no entanto, tem evitado acusações, preferindo defender o fim dos privilégios com um discurso conciliador. O compromisso é possível, disse ele, recordando acordos alcançados nos governos de Ronald Reagan e de Bill Clinton.
Não está em jogo, no entanto, apenas uma distribuição equitativa de sacrifícios. O plano defendido na Câmara pelos republicanos terá efeito recessivo, se for convertido em lei. Um ajuste fiscal como esse poderá resultar, segundo alguns analistas, numa crise pior que a de 2008-2009. O mundo todo será afetado, se a economia americana entrar nesse atoleiro.
Na semana passada, o governo chinês cobrou uma atitude responsável dos americanos - algo quase inimaginável em outros tempos. Mas os chineses, neste momento, são provavelmente os menos interessados em aumentar as dificuldades do governo dos Estados Unidos. Em maio, a China, maior credora da dívida americana, acrescentou US$ 7,3 bilhões a seu estoque de títulos do Tesouro norte-americano, elevando o total para US$ 1,16 trilhão. O Japão, segundo maior credor, também comprou mais papéis e aumentou para US$ 912,4 bilhões o valor de sua carteira. Contribuir para o agravamento da crise americana seria muito mais imprudente que arriscar mais alguns bilhões naqueles papéis.
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