Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Indústria em alta – até maio

A crise pode afetar a recuperação econômica, mas até maio dados positivos se acumularam

Exclusivo para assinantes
Por Redação
3 min de leitura

A crise política ainda pode estragar a festa da recuperação econômica, por enquanto apenas iniciada, mas até maio os dados positivos continuaram a acumular-se. Nesse mês a produção cresceu em todos os grandes segmentos da indústria, com destaque para automóveis e outros bens de consumo duráveis, além de máquinas e equipamentos, conhecidos pelo nome genérico de bens de capital. Depois da ampla destruição iniciada no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, sinais de recomposição começam a multiplicar-se. A indústria geral produziu em maio 0,8% mais que em abril e 4% mais que um ano antes. O volume acumulado em cinco meses foi 0,5% superior ao de janeiro a maio de 2016, mas em 12 meses o resultado ainda foi 2,5% menor que o do período imediatamente anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Também esse dado é animador, no entanto, porque os valores se tornam menos negativos e a atividade tende à recuperação, depois de longa e penosa fase de recuo.

Mas o caminho ainda será longo. O total produzido pelo setor diminuiu 2,3% em 2012, 3% em 2014, 8,3% em 2015 e 6,5% em 2016. O pífio crescimento de 2,1% em 2013 praticamente some ao lado de tantos números negativos. No caso da indústria a demolição começou bem antes da recessão, iniciada de fato em 2014 e registrada mais claramente nos dados negativos do Produto Interno Bruto (PIB) de 2015 e 2016. Nesses dois anos os demais setores sucumbiram aos erros e desmandos da política econômica já visíveis, bem antes, na devastação da indústria.

A produção de bens duráveis de consumo, puxada pela fabricação de automóveis, aumentou 6,7% de abril para maio e ficou 20,7% superior à de igual mês do ano anterior. De janeiro a maio superou a de um ano antes por 11% e em 12 meses cresceu 0,4%. A de outros bens de consumo, apesar do crescimento de 0,7% em maio, ainda acumulou redução de 3% em 12 meses. É um efeito claro do desemprego muito alto e das dificuldades e temores das camadas mais vulneráveis da população. Serão esses os grupos mais afetados, se o tratamento irresponsável das questões políticas fizer abortar a reativação da economia. Mas as perdas atingirão também as demais camadas de assalariados e de pequenos e médios empresários.

Uma das novidades mais animadoras é o aumento da produção de bens de capital. O crescimento mensal chegou a 3,5%, mesma taxa obtida na comparação dos cinco meses do ano com os cinco primeiros de 2016. Em 12 meses a expansão foi de 0,9%.

O avanço tem sido puxado pela produção de equipamentos para a agricultura, com aumento de 24,8% na comparação de janeiro-maio com o mesmo período do ano anterior. O mesmo confronto indica um ganho de 24% na fabricação de bens de capital para construção, um indício muito positivo. O resultado dos produtores de máquinas e equipamentos para indústria aponta um recuo de 6,7%, mas com tendência de recuperação. Com cerca de 25% de capacidade ociosa nas fábricas, o setor levará algum tempo para correr às compras de máquinas e equipamentos. Por enquanto, deve predominar a reposição inadiável de bens de produção.

As exportações de manufaturados têm contribuído para a ativação da indústria. De janeiro a junho o valor embarcado, de US$ 37,7 bilhões, foi 10,1% maior que o de um ano antes, pela média diária. As vendas externas de semimanufaturados também têm crescido: a receita do semestre, de US$ 15 bilhões, foi 17,5% superior à de janeiro a junho de 2016.

As exportações de automóveis de passageiros (US$ 3,3 bilhões) lideraram as vendas externas de manufaturados. Veículos de carga (US$ 1,4 bilhão) ficaram em terceiro lugar, depois de aviões (US$ 1,7 bilhão). Também no País as vendas de veículos têm crescido. As de junho, de 194,9 mil unidades, foram 13,5% maiores que as de junho de 2016, segundo a Fenabrave, associação das concessionárias. As do semestre, de 1,02 milhão de veículos, superaram as do ano anterior em 3,6%. Sem ser ainda uma grande festa, o quadro geral é tentador para um estraga-prazeres.